sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Gretchen - Filme Estrada



Pão, circo e quadris

ou

Viajo porque preciso, volto porque rebolo
(desculpa, não resisti; não resisti mesmo)

É muito fácil assistir a Gretchen Filme Estrada (2010) esperando ver uma coisa e sair com outra. Gretchen, a dançarina, a artista, a personagem, pertence um pouco ao imaginário do Brasil, como o próprio documentário reconhece. O que temos aqui, no entanto, é o registro de sua esforçada campanha de eleição para a prefeitura de Ilha de Itamaracá, em Pernambuco, no ano de 2008, ponto de apoio que se revela suficientemente rico.

O filme, dirigido pela colunista Eliane Brum e pelo documentarista Paschoal Samora, segue Gretchen e seu comitê por ruas e comunidades. Sempre que pode, ainda se apresenta com o eco de seu passado, movida a playback e rebolado. De carro, viaja para habitações mais distantes, na tentativa de coletar votos em pedaços esquecidos de Brasil. É, em parte, o road movie que o título sugere, e Brum e Paschoal logo parecem identificar a direção que devem tomar com o aquilo que têm. Gretchen vira pano de fundo, e Gretchen Filme Estrada acaba por configurar uma espécie de retrato da política brasileira, ou de parte dela.

Embora o texto em off (escrito por Brum, imagino) às vezes pese como uma coluna de revista  que tenta a todo custo se encaixar no que lhe seria um corpo estranho - o cinema - e seja narrado de uma maneira quase estudantil, insegura, o documentário encontra força nos pequenos bastidores de campanha e em seus paralelos. A carreira rebolante de Gretchen é lembrada inúmeras vezes. Seus quadris circenses sob o olhar de eleitores, ao fundo do quadro, parecem constituir imagem síntese do filme. Aqui, ela rebola por votos, um teatro assumido ("Volta o CD!"), não muito distante da religião. Bunda e Deus com propósitos eleitorais semelhantes.

Interessante também é a figura de Gretchen como sombra de si mesma. Apresenta-se como mulher normal, mãe, ao mesmo tempo que procura tirar proveito de seus 30 anos de carreira. E nem poderia ser diferente. Em dado momento, cidadãos da Ilha não acreditam que é a própria Gretchen prestes a protagonizar sua performance. Há alguma noção de fascínio pela fama que parece irretocável e dialoga bem com o tom de decadência que constantemente bate na porta do filme. Como candidata política, porém, Gretchen é uma qualquer, genérica e rodeada de clichês. Chega a levar o documentário a um certo cansaço, a edição tendo problemas para identificar a redundância de seus discursos, ou apenas procurando aumentar a metragem com eles.

Lá pelas tantas, o doc decide expôr parte de sua estrutura, pouco depois de uma séria reunião entre a candidata e sua equipe. A reunião não foi filmada. Segundo os diretores (já na voz de Brum, salvo engano), Gretchen teria dito ser "realidade demais para ser registrado". É uma mulher de mídia.

2 comentários:

  1. Fabrício, Olá!

    Não consegui encontrar na internet nenhum link para baixar o documentário... Sabe onde posso encontrar? Abraços

    clesantana@live.com

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    1. http://filmebrazucas.blogspot.com.br/2013/08/gretchen-filme-estrada-nacional-2010.html

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