sábado, 10 de março de 2012

Agente 117 - Uma Aventura no Cairo




Michel Hazanavicius e seu O Artista levaram o Oscar. O que será de Hazanavicius agora, eu não sei (seu atual projeto é um curta para uma coletânea), mas me parece ser alguém bem mais interessante de observar do que Tom Hooper, premiado por Hollywood ano passado por O Discurso do Rei, atropelamento-e-fuga criminoso em cima de David Fincher (A Rede Social).

Tanto Hooper quanto Hazanavicius vieram da TV, seriados e filmes made for sala de estar. O holofote é grande em Hooper: atualmente, filma adaptação de um musical baseado em Os Miseráveis, de Victor Hugo; elenco estelar e um lançamento programado pra dezembro, então tá bem ali, no ritmo da fábrica. O problema é que, quando vi O Discurso do Rei, eu ainda vi um filme pra TV, ou quase isso.

Praticamente todo o trabalho de Hooper é cercado por uma britanidade, drops didáticos da história inglesa (incluindo sua colônia - John Adams) que me fazem pensar nesse diretor como um peão do tabuleiro, contador de histórias para quando vou para a cama, não quando saio dela. Não é um Stephen Frears, não é um Mike Leigh.

Falei isso tudo só pra dizer que ontem vi Agente 117 - Uma Aventura no Cairo (2006), segundo longa de Hazanavicius, o primeiro com Jean Dujardin, agora já uma dupla autor-ator - ou melhor, autor-atores, pois Bérénice Bejo também está por lá. É uma paródia de 007 (franceses enfiando o dedo na orelha de ingleses), o que não é raro, mas com o humor de um Inspetor Clouseau (dedo americano em orelha francesa), bem direcionado na sua bobice. Filme simpático, com lição de casa bem feita sobre esses spy movies de "agente mito" do passado (ou, no caso de James Bond, do eterno). O clássico movimento de câmera em cenas de sexo desses filmes, que se vira pro lado, pudico, aqui fica desconcertado com um espelho. Tão besta, tão legal.

Originalmente, OSS 117 é personagem de livros de espionagem sérios, já adaptado para filmes sessentistas, também sérios. Aqui, o agente é um pateta, mas também um galã de verdade (Austin Powers, por ex., é "galã" de mentira), e várias cenas sugerem que Dujardin, muito bem alfaiatado, poderia fazer o mesmo papel numa versão sóbria, e talvez esse seja o ponto mais interessante do filme, que muitas vezes parece se segurar apenas no ator. O cara é bom mesmo.

Na verdade, não me surpreenderia se Hazanavicius sumisse do mapa. O pouco que fez honra um tipo de cinema que não se faz mais (o Bond de Daniel Craig é um Bond pós-Bourne), que não se vê e não se assiste, por mais óbvia que a premissa de O Artista seja nesse sentido; é sobretudo um aluno de história do cinema. Hooper, aluno de história, deve ter maior sobrevida, e sendo tão mais desinteressante.