Hoje estreou o novo Beto Brant, Eu Receberia as Piores Notícias de Seus Lindos Lábios. Foi outro que vi em fevereiro, na V Mostra O Amor, a Morte e as Paixões, que tem o hábito de abrir com filmes nacionais e entrada franca. Brant, que dirige ao lado de Renato Ciasca, mais uma vez adapta Marçal Aquino (O Invasor), tendo Camila Pitanga e Gustavo Machado como o casal protagonista. Presente nessa sessão de dois meses atrás, Machado disse nunca ter
visto tanto filme bom e fora do mainstream passando tudo em um shopping, local da Mostra.
Em
um filme bem atuado, Pitanga e Machado saem inteiros dessa corda
bamba que é Eu Receberia.... Ele interpreta um fotógrafo interessado
pela imagem do indígena brasileiro, ela, uma bela moça do município, sua
provável “musa”, digna de um ensaio Playboy particular. A exemplo de Mariana
Ximenes em O Invasor e Tainá Müller em Cão Sem Dono, Brant
continua filmando mulher de um jeito safado sem parecer vulgar. Pitanga nunca
esteve tão à vontade, em todos os sentidos.
Eu
Receberia... começa bem, com plano de abertura que
mostra o que parece ser uma índia, completamente nua, na praia, fazendo poses
para o que se presume ser uma sessão de fotos. Talvez seja o melhor plano desse
filme que encontra ladeiras pra descer, com um certo Brasil muito bem resumido
na imagem da garota jogada na areia, mar ao fundo, sol. Brant e Ciasca vão se
dedicar, então, a uma brasilidade um tanto quanto além do controle enquanto se
enroscam no romance do casal protagonista (e forasteiro), alternando o sexo
convincente com o que me pareceu uma forçada imersão nos rostos do povo, do
brasileiro do norte. Algumas cenas passam a impressão de existir dentro de uma
estranha requisição ecológica, como se estivesse ali de passagem. Outras,
principalmente as conclusivas, são espremidas entre fades bocejantes, um
excesso de apaga-acende capaz de deixar o filme ansioso por seu próprio fim.
Há, enfim, alguma moldura de Brasil, ou de um
Brasil, com todo um esforço nesse sentido, desde o município de Santarém, com
seus residentes, seu comércio, os rios paraenses, até a miscigenação traduzida
no corpo de Pitanga. Sensação geral, contudo, é de que Brant é mais feliz nas suas capturas de um
Brasil urbano, rodeado de concreto que tem algo mais a lhe dizer.