sexta-feira, 28 de maio de 2010

Robin Hood



Robin Hood de Ridley Scott e Russell Crowe fica entre aquele filme do Didi e a versão com Kevin Costner.

Na mais recente parceria entre Russell Crowe e Ridley Scott, o ator interpreta Robin Hood antes dele se rebelar contra o reinado inglês e virar um fora-da-lei de papel pregado em tronco de árvore. Inícios de lendas despertam interesse, mas essa dupla transforma filme e personagem numa espécie de Robin Maximus Hood. De repente, no meio da projeção, você percebe que é mais fácil enxergar Robin Hood em Kevin Costner do que em Russell Crowe, e isso diz muita coisa.

Como tem sido tradição nos últimos anos de Cannes, em que filmões fazem a sessão de estréia, Robin Hood foi a grande produção que serviu de abertura para o Festival. Taí uma sessão que gostaria de acompanhar, pois, no filme, franceses são escrotinhos, contratam traíras e depois se fodem. Mas o vilãozão mesmo é o inglês Godfrey (Mark Strong, presença), quase um Darth Vader medieval sob sua capa preta. Ei, se um cara não se importa em comer uma ostra com sangue de outra pessoa, ele só pode representar o chefão final.

Temos aqui a típica produção simplesmente GRANDE que se comporta como um paquiderme mecânico, desde batalhas inexpressivas programadas no automático às várias tentativas daquele humor de confeitaria, bem comum na Hollywood pejorativa. Enquanto Robin parece andar acompanhado pelos Três Patetas, o filme encara parte da relação com Marion como se fosse uma sitcom, oficializando o casal com um “eu te amo” pronto depois de cozinhar por três minutos (mas sem o pozinho do tempero). Alguém precisa avisar a Cate Blanchett que ela é melhor que essas coisas que ela tem feito.

Os épicos de Scott parecem ter saído de uma página de classificados. A impressão geral é que dá pra misturar cenas de Gladiador, Cruzada e Robin Hood numa sala de montagem e o resultado sempre será essa feira de decoração de interiores medieval. É um diretor nascido na publicidade, assim como seu irmão Tony, capaz de usar filtro azul pra coar café. Esse apelo visual digno de anúncio transborda na batalha final, fazendo de Robin Hood o mais longo comercial da Nike. A última flechada, filmada com perfeição publicitária, pede um “Just Do It”.

*post escrito ao som de Radiohead - "Just"

quarta-feira, 26 de maio de 2010

LOST




Direto ao ponto divisor: gostei do final de Lost. Nem que seja pelo maravilhoso arco dramático do protagonista.

De acordo com o comportamento da série durante seus seis anos, talvez haja certa ingenuidade por trás da cobrança de um 100% nas respostas, ou, ainda mais longe, de um final esclarecedor (seasons 2 e 3, as mais frágeis, chegavam a ser bem chatas nesse aspecto: nunca era a hora de responder nada). A verdade é que, como conclusão, o desfecho é bem claro na explicação, ocorrida durante o último diálogo do show. É nesse ponto que entra a satisfação ou insatisfação em relação ao final que cada um esperava ou, pior, queria, uma situação-balança a qual todo seriado está sujeito, em maior ou menor grau. Nesse sentido, diria que há um tanto bom de coragem aqui.

Como se percebe nas rápidas matérias de internet e no ainda mais ligeiro Twitter, a season finale da série mais coqueluche dos últimos anos terminou em controvérsia, desagradando um punhado de fiéis seguidores que não deram unfollow entre uma temporada. Com a falta de respostas sendo a maior queixa, Lost parece dividir um mesmo palco com Matrix (um outro show que investia num mix entre sci-fi e simbolismos religiosos) no que se refere a conclusões versus expectativas. Como a trilogia, será eternamente comentada e teorizada a vácuo, e, não somente por isso, devidamente consolidada na cultura pop.

Entre as marcas de Lost estão inesperadas alterações na estrutura narrativa (há flashbacks, flashforwards e flashsideways), a mitologia própria e, não menos importante, a transição entre elementos religiosos e de ficção científica, muitas vezes em forma de embate. Conceito de viagem no tempo é abordado modo interessante no programa, com idas e vindas que, somado àquele pezinho no fantástico, parecem ter criado uma série em Present Perfect. É até notável, portanto, que tanto investimento em mistério resulte num último episódio carregado no emocional, podendo ser comparada à finale de A Sete Palmos.

Interpretados por gente boa desde o começo (Matthew Fox, Terry O’Quinn, Michael Emerson) ou que evoluíram a cada temporada (Josh Holloway, melhor exemplo), temos aqui personagens principais que foram bem estabelecidos no decorrer de seis anos. Todos estão concentrados num capítulo com assumido ar de despedida que também deve muito ao compositor Michael Giacchino (sua trilha para a série é dos melhores cartões de visitas que alguém poderia ter). Também é presente uma curiosa sensação ecumênica, para dizer o mínimo, o que, somado ao último diálogo, parece sugerir em Lost uma série sobre o lidar com a morte.

Esse “lidar com a morte” foi apontado por um amigo, e o encerramento pesa muito nesse sentido, de fato. Novamente, ecoa a jóia que é a sequência final de A Sete Palmos. Mas também me fez pensar em Umberto Eco dizendo que uma das principais funções da Literatura é a educação para a morte.

p.s.: meus incômodos não estão na falta de explicação aqui ou ali, mas em não entender como uma série faz uma puta abertura em 2005 e, cinco anos depois, apresenta cenários, rolhas de rocha, cavernas, luzes e pedras aparentemente tiradas de um filme da Xuxa. porralost.tumblr.com!

*post escrito ao som de Radiohead - "Everything In Its Right Place"

terça-feira, 18 de maio de 2010

Ian Curtis



Ian Curtis
1957 - 1980


Em homenagem aos trinta anos da morte de Ian Curtis, favor assistir aos filmes Control, de Anton Corbijn, e 24 Hour Party People, de Michael Winterbottom.

O que mais senti em Control foi uma obra versando sobre a precocidade em vários sentidos: amor, casamento, filho, banda, sucesso, pensamentos, morte etc, e como isso era refletido no Curtis e pelo Curtis. É um belo deprê em preto e branco, cores que parecem sintetizar a memória que temos de Joy Division. Faz ótimo contraplano com 24 Hour Party People, em que Winterbottom reserva espacinho carinhoso para Curtis e banda.

*post escrito ao som de Joy Division - "Love Will Tear Us Apart".

Homem de Ferro 2




Robot rocks.

Diversão é a meta atingida pelos dois Homem de Ferro dirigidos por Jon Favreau, mas que não se preocupa muito em ir além disso. Na ação, Favreau se limita ao satisfatório, sem conceber nenhuma grande cena digna de lembrança para um personagem de quadrinhos que tampouco enfrenta algum inimigo interessante. Homem de Ferro 1 e 2 são filmes de ação perto da linha mínima de exigência de produções de grandes estúdios.

No segundo filme, outro engenheiro militar pretende produzir seu próprio exército de ferro, a ser vendido para as Forças Norte-Americanas. É interpretado por Sam Rockwell, a melhor adição de um casting que mais se gabou de ter Mickey Rourke, Samuel L. Jackson e Scarlett Johansson no elenco, sendo estes dois últimos um exemplo de desperdício (Johansson gerou miniatura 1:6, com decote). Rourke, vilão físico da vez, parece interpretar outro lutador de Telecatch e continua chamando atenção como figura excêntrica – de todo modo, tem sido simplesmente bom pra porra vê-lo na tela.

Cena de introdução de Rockwell serve para complementar o showman (oni)presente em Stark, mas também para reforçar a idéia de produto em relação ao exoesqueleto. Ainda que de maneira simples, o longa volta a investir no conceito armamentista no qual Homem de Ferro se insere bem, considerando as implicações de uma criação dessas. Nesse sentido, fica atrás do primeiro, em que bons 40 minutos são usados com Robert Downey Jr. em meio a ferro, soldagem, terroristas do oriente médio... pacote completo.

Robert Downey Jr é, por sinal, uma vantagem muito importante, da qual, sejamos justos, Favreau constrói certa leveza que resulta no que há de melhor em seu(s) filme(s). Homem de Ferro pode se aproximar de Robocop em alguns conceitos, mas aqui, numa cena de briga robótica que Favreau leva longe o bastante sem tocar no ridículo, temos evidência de que está mais para Daft Punk. Yeah, robots rock.

Um dos produtos Marvel de maior rendimento na bilheteria, Homem de Ferro sem armadura parece ser próximo de Batman, o mais lucrativo da rival DC. Bruce Wayne e Tony Stark são órfãos herdeiros de herança paterna, donos de empresa multimilionária, ricões egocêntricos e narcisistas que acabam virando (super-)heróis não exatamente por poderes, mas porque tem dinheiro pra bancar título e parafernálias. Diferem, porém, no sentido de que a faceta mais escrota de Wayne é disfarce, e a de Stark, assumidamente genuína. E Downey Jr. se esbalda.

Com algum eco de Johnny Depp e seus Piratas do Caribe, temos aqui ator dos mais inesperados para representar um herói de quadrinhos e liderar uma franquia blockbuster. O sucesso desse imprevisto tão inspirado parece agravar ainda mais a ausência de vilões menos comuns. Ironicamente, o personagem narcisista tem o filme só para si, fácil.

Desde quando fez clipe para Elton John, Downey Jr. nunca esteve tão associado ao cool. O homem anda top, de uma matraquice segura e empolgante, atuação prazerosa a ponto de ser melhor que os dois filmes juntos. Talvez seja a primeira adaptação de HQ em que há mais interesse em ver o herói sem armadura.

Filme visto em Maio/2010

*post escrito ao som de Daft Punk - "Robot Rock".