quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Titanic



Corpos e gravidade

Rever Titanic depois de muitos anos é algo assim: paciência – wow, legal – música ruim – do caralho – paciência – paciência – bom casal – bom casal? – música ruim – pobres são mais legais – wow, do caralho – paciência – Billy Zane griladão – Billy Zane muito griladão – música ruim – som foda – wow, fantástico – ¬¬

Como narrativa clássica, esse cinemão de James Cameron atinge níveis significativos de inteligência, seja na tela ou (alguém duvida?) no mercado de amores rebeldes e eternos. Um recorde de estatuetas douradas ajuda, mas Jack e Rose parecem sobreviver sozinhos, embora muita coisa tenha caído no brega ou simplesmente já nascido assim (Dion?). Mais que isso, solidificou DiCaprio e Winslet, hoje duas carreiras Hollywood bem interessantes. Em 97/98, Titanic poderia ser grande demais para eles, mas não foi; isso é bom.

Cameron tem as manhas da grandeza. Sempre teve. Não faz cinema-britadeira como Michael Bay ou é um operário como Gore Verbiski. Os 60 minutos de navio afundando talvez sejam seu tour de force, façanha que poucos conseguiriam com algum ritmo e elegância. A fisgada que me faz gostar do filme está ali, acima do romance abobrinha, certamente acima do simplório olhar sobre as classes. Na última hora de duração, um imenso navio é inundado, afunda, racha ao meio, e Cameron detalha por suas entranhas (pratos imaculados se espatifando) e por “externas”, pessoas deslizando e caindo como se fossem sacos de batatas. Efeitos e alta maquinaria hollywoodiana que não engolem a tela.

Gosto de pensar em Titanic como um filme sobre Física. Corpos e gravidade. Foi assim que me impressionou em janeiro de 1998, e de certa forma ainda impressiona.

*será relançado nos cinemas em abril de 2012 num 3D caça-níqueis.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Vanishing Point (1971)



O último herói da América

A primeira vez que vi Vanishing Point (1971) foi na TV a cabo (no Brasil, recebeu o título de Corrida Contra o Destino). Já tinha assistido a Easy Rider (1969), filme de Dennis Hopper tido como um dos marcos iniciais da New Hollywood, um acontecimento certeiro, efeito do momento, lugar certo, hora certa, loucura certa. Os dois são siameses, mas o filme de Richard Sarafian me pegou mais, me disse mais. Continua assim.

O filme acompanha o imparável Kowalski na sua corrida para chegar a São Franscisco em até três dias. Sua motivação parece ser a simples velocidade, sua droga simbólica e literal (speed), levando um Dodge Challenger 70’ branco a uma América em início de nova década, sendo cruzado e atropelado por remodelações da cultura americana numa espécie de driveabout. Perdida com a aparente irracionalidade (e uma habilidosa imprevisibilidade), a polícia não sabe o que fazer, limitando-se ao papel de Coyote desse Papa-Léguas motorizado.

Kowalski tem passado, partes que Sarafian cola no filme como se criasse um painel: ex-militar, ex-policial, ex-piloto, historietas. Sua corrida solitária é guiada por um radialista negro e cego que o vê como “o último herói americano” dirigindo seu “Soulmobile” (Almamóvel), uma celebração que Sarafian arquiteta com melancolia e o cuidado de nunca distanciar o piloto-herói de seu carango, às vezes numa viagem quase mística. Homem e carro coexistem, muito embora Sarafian não esteja interessado em dar personalidade à máquina, como John Carpenter (Christine) e Steven Spielberg (Encurralado) viriam a fazer nesse tipo de relação.

É um baita filme para introduzir os anos 70. Vanishing Point entra de pedal, de speed, de hippismo, de muita poeira e, de quebra, motociclistas peladas. Recebeu bela homenagem de Quentin Tarantino em À Prova de Morte, há quatro anos.

* postado ao som de "Kowalski" - Primal Scream

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Conan, o Bárbaro (2011)



Há quase 30 anos, Arnold Schwarzenegger não imortalizou Conan nos cinemas apenas pela corpulência, mas por John Milius saber explorar aquela figura física bastante única e bronca (nesse sentido, John McTiernan e James Cameron também souberam como filmar Arnoldinho). No Conan, o Bárbaro de 1982, a sensação é de que Schwarzenegger não interpreta Conan, mas uma estátua de Conan ou algo assim, próximo a um desenhado perfeito.

Jason Momoa, o novo Conan, parece um guerreiro modelo qualquer. Mas pega peso no supino, isso percebemos.

Foi só ontem que me submeti ao Conan 2011, de Marcus Nispel, diretor que tem a mania horrorosa de passar sabão e xampu em filmes supostamente hardcore (remakes de O Massacre da Serra Elétrica e Sexta-feira 13). É tudo muito limpo, uma forte impressão de que Conan pode arrancar uma ou duas cabeças numa cena e vestir roupas da GAP em outra.

Após introdução meio confusa (aquelas breves narrativas sobre a história de povos e terras dizimados), o filme nos apresenta a um Conan criança, garoto-Capricho que aprende a esmagar cabeças e fazer cortes que espirram baldes de sangue, mas sempre nessa estética de comercial de TV. Bonitinho, limpinho, bárbaro. Meia-hora de duração, vira Momoa (bem mais conânico como Khal Drogo na série Game of Thrones): bonitão, limpão, bárbaro, pronto para enfrentar gente feia, deformada, dentes podres e mulher sem sobrancelhas.

Ano passado, o cinema blockbuster hollywoodiano nos trouxe aventurinha semelhante em outra espécie de refilmagem, Fúria de Titãs, também ruim, mas que tinha, além de certo elenco, alguma lucidez nas suas grandes bobices – ou simplesmente noção do seu ridículo. Conan 2011 faz bocejar nas mais simples cenas de ação, filmadas como um seriado B. Na rede cinéfila MUBI, um rapaz diz ter se lembrado de Xena. Faz todo sentido.