sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Um Novo Despertar (The Beaver)


Assistir a Um Novo Despertar uma semana depois de Melancolia pode ter algo de hilário. São, basicamente, filmes que procuram refletir sobre a muito bem adotada tendência a felicidades fingidas. Mas enquanto Lars Von Trier joga um mundo em nossas cabeças num espirituoso (e carinhoso?) apocalipse, Jodie Foster parece movida por alguma estranha carência de colo. Há a impressão de que algo muito importante precisa ser aprendido, uma dessas pra levar pra vida depois de carimbo de estrelinha no caderno.

Foster, sempre atriz de interesse, dirige este seu terceiro filme como quem espera um selo de aprovação do CVV. O protagonista dessa palestra motivacional é Mel Gibson em papel duplo: Walter Black, um homem depressivo por pacote completo de motivos, e o fantoche de castor que ele assume como personagem, iniciando todo um psicologismo sedex que ainda envolve esposa (Foster) e filho (Anton Yelchin), ambos descontentes. Castor em punho, Black parece melhorar, progresso acelerado por quatro ou cinco montagens em dois terços de filme.

O título original é “O Castor” e Gibson passa quase todo o filme falando pelo brinquedo, como se estivesse em um teste de casting dos Muppet Babies. Fica a dúvida entre olhar para o fantoche ou olhar para a cara de Gibson, exerciciozinho desconfortável, mas que parece almejado por enquadramentos e giros de câmera durante a ventriloquia de seu monólogo interior. “Eu não sou um fantoche”, diz o Gibson sotaquento, mas o close é no castor. Essas mastigações ganharão trinta minutos finais de um tipo de constrangimento alheio muito particular, com destaque para uma cena que, na memória mais recente, só fica atrás de Nicolas Cage vestido de urso batendo em mulher naquele inacreditável remake de The Wicker Man.

Por fim, temos aqui uma amostra de cinema-quem-mexeu-no-meu-queijo capaz de reproduzir o mesmo discurso motivacional via três personagens, uma narração em off e o próprio filme em si, totalizando cinco ladainhas. Cruel.