sábado, 2 de fevereiro de 2013

Oslo, 31 de Agosto



Esforços e desistências

Das coisas boas de mostras e festivais: você entra meio às cegas em várias sessões, descobrindo o filme na hora, às vezes porque resolveu encaixar uma sessão na agenda apenas para aguardar outra, e em algum momento sente-se bem pela escolha. Oslo, 31 de Agosto (2011) foi dessas.

É uma história simples, até mesmo velha para esse mundo rápido: o ex-viciado em drogas que, há meses limpo, tenta se reencontrar na sociedade e em relação a si mesmo. Anders (Anders Danielsen Lie, em bela atuação) é esse cara, e o início do longa é ele tentando se suicidar de maneira pouco eficaz.

Neste 31 de agosto do título, Anders reencontra amigos, gente do passado, pessoas queridas e desafetos. Tenta um emprego de auxiliar de redação. Rapaz inteligente, com uma lacuna na vida, a atuação de Lie sugerindo um constrangimento honesto, mas que ao mesmo tempo valoriza o atual recomeço. A entrevista com o editor de uma revista é muito boa e ilustra o desafio de Agnes a não olhar pra baixo.

Joachim Trier, o diretor (e que não tem parentesco com Lars Von Trier, bom dizer), me pareceu um pouco viciado no enfoque e desfoque, mas ele tem seus brilhos de cineasta promissor. Um deles é a cena em que Anders, num café, escuta as conversas ao redor, gente jovem falando de suas rotinas normais e, mais especificamente, uma jovem listando seus desejos pra vida. O melhor da cena, na verdade, está no final, quando Anders sai do café e a câmera o acompanha com um súbito travelling, retinho, quase um choque dentro de um filme todo com câmera na mão. Nesse movimento, controlado som interno dando lugar ao som da cidade do lado de fora.

Também me chamou a atenção no modo como Trier filma Oslo. Nós temos mania de pensar Noruega, Dinamarca, Suécia, enfim, os países nórdicos, com uma carga mítica muito concentrada. O país distante, rico, sublime, avançado. Em Oslo, 31 de Agosto, a capital norueguesa aparece bastante normal, seja na rua ou na vista de uma janela. Um pesquisador acadêmico norueguês da área de humanas aparentemente tem as mesmas agonias individuais que um pesquisador brasileiro, vejam só - e também escrevendo teses e estudos que "ninguém lê".

Por fim, o longa encontra um desfecho nada enganador. Trier sequer tenta nos surpreender, o que é bom. Tive a sensação de buscar uma conexão com o início. Me pareceu um filme sobre esforço e desistência.

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