sábado, 9 de fevereiro de 2013

Os Miseráveis (2012)



Cinema torcicolo

O que Hollywood viu nesse Tom Hooper, afinal, para investir tanto no cara? Está aquém até mesmo da ala mais mambembe da indústria, com seus Ron Howard, Taylor Hackford, Marc Forster e, tirando uma ou outra coisa, o atual Ridley Scott, só pra começar. Após ser laureado pela Academia por O Discurso do Rei (2010), mediocridade já cheia de vícios visuais, lhe entregaram esse Os Miseráveis, adaptação de um musical da Broadway, que por sua vez é baseado no romance de Victor Hugo (há uma edição linda da Cosac Naify no Brasil, inclusive). A produção concorre a oito Oscar, incluindo Melhor Filme.

Justiça seja feita, temos aqui um musical consideravelmente ousado. As canções não se dedicam apenas a sequências especiais de música e dança, sendo quase todas as falas movidas pelo canto. Embora o gênero, assim como o western, tenha encontrado novos batimentos cardíacos em Hollywood (Moulin Rouge, Chicago, Nine, Sweeney Todd...), um musical integral talvez pareça um passo maior que a perna para alguns espectadores.

Na França pós-Revolução, as pessoas soltam a voz para contar a história de Jean Valjean (Hugh Jackman), condenado à prisão por ter roubado um pedaço de pão. Quebra sua liberdade condicional para, arrependido, construir nova vida, mais digna e próspera. Será, porém, perseguido anos a fio por Javert (Russell Crowe, cantando gripado, aparentemente), inspetor da polícia, personificação da Lei. Como palco dessa caça, todo um cenário de pobreza e desespero que cercava a população do país, que terá em Fantine (Anne Hathaway) sua maior representante e, para Valjean, uma mártir pessoal. Muita sofridão, com as músicas procurando uma espécie de catarse constante.

Uma dica dada por amigos é a de abandonar a sessão assim que Hathaway sai de cena. Considerando que o melhor momento de Jackman acontece antes dela aparecer, faz certo sentido. Favorita ao Oscar de Atriz Coadjuvante, ela está mesmo uma coisa espetacular. É seu pequeno tour de force.

Mal dirigido ou não, essa musicalidade infinita é o que há de mais interessante e, enquanto projeto, ninguém poderia acusá-lo, hoje, de mesmice. Tendo passado uma semana em cartaz, o que se percebe no público em geral é uma certa preguiça do conceito levado ao extremo, por quase três horas. "Insuportável", ouvi dizer de três pessoas diferentes. Também achei, sobretudo da metade em diante. Não por esse acúmulo de cantoria, mas por ser um filme horroroso, feio de olhar. Inacreditável dizer isso, mas até dá pra pensar que Rob Marshall, coreógrafo de montagem (Chicago), faria algo bem menos cansativo. Tom Hooper me parece ser simplesmente catastrófico.

Três longas, dois deles cheios de indicações e holofotes, tem-se a impressão de Hooper já virar uma piada. Profissional empanturrado de manias estéticas irritantes, sugere uma aleatoriedade nas escolhas de suas imagens. Entre seus cacoetes, closes imensos nos rostos, a lente distorcida enfeiando tudo, desfocando até o corpo (ver principal número de Hathaway, por exemplo, um embaço que chega a fragilizar o fato de ser um plano-sequência), deixando os atores com a estranha impressão de usarem máscaras de si mesmos. Ou então filmando-os como bustos de bronze parados em algum lado da tela, contra um fundo vazio e sem foco, aquela sensação de terem borrifado litros de colírio na nossa cara. Deve ser frustrante para uma equipe de direção de arte, seu trabalho escondido por rostos inflados e planos nublados.

Hopper também gosta de inclinar o enquadramento, outro tique abominável (ver imagem acima). E como gosta. Não existe uma cena em que não exista um... dois... três planos tortos. Com câmera corcunda e manca, o filme lembra um quadro mal pregado na parede. Hooper, cineasta torcicolo.

Este senhor tem um Oscar de melhor direção.

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