domingo, 3 de fevereiro de 2013

A Parte dos Anjos




Feel good movie de whisky

Tratei logo de ver o último do Ken Loach, que perdi na Mostra de São Paulo. Era dos mais procurados por lá. Não apenas por já ter colecionado um balaio de elogios, mas porque A Parte dos Anjos é outro Loach leve, muito capaz de adicionar mais e mais público a cada exibição. Deve ser bem procurado no decorrer da Mostra O Amor, a Morte e as Paixões.

Aconteceu também de ser minha última sessão do dia, logo após ter assistido a Depois de Lúcia, produção mexicana um tanto impressionante (e bem boa!), pesada, tão ou mais amarga que o Amor de Haneke. A Parte dos Anjos agiu como um curativo.

Em mais uma colaboração entre o roteirista Paul Laverty e o cineasta (já são mais de dez?), temos aqui um feel good movie esperto e, o que é sempre um ponto a favor, de humor britânico. Loach, diretor inglês bem observado desde Kes (1969), seu segundo longa, nos traz a história de um grupo de escoceses que, cada um punido por seu delito, devem cumprir horas de serviço comunitário. São uma espécie de gangue de arrependidos e desafortunados, personagens engraçados sem muito esforço e construídos numa boa noção de amizade. São os "anjos" do título, de alguma forma, e o filme corre bem com eles.

Loach não hesita, porém, em mostrar o crime cometido pelo que vem a ser o protagonista, Robbie (Paul Brannigan, muito bom em seu primeiro trabalho), sujeito baixinho, franzino, esquentado e com histórico de violência. Seu erro, no caso, foi ter espancado outro rapaz, e por um motivo ridículo. Essa agressão é mostrada em flashback e filmada sem o menor carinho que é tão presente na maioria das outras cenas, uma mudança brusca de tom forte o bastante para nos acompanhar até o fim, funcionando muito bem no filme, e no momento certo, ainda no começo. Robbie também é pai de um recém-nascido, outro motivo para tentar se reajustar.

Mas o melhor de A Parte dos Anjos talvez esteja na habilidade de desenvolver sua verdadeira paixão através do whisky, surpreendente motor da narrativa a partir de certo ponto, com direito a virar um "filme de roubo" do bem. São visitas a destilarias, a Edimburgo, degustações, uma sensação de culto em torno de enormes barris e toda uma filosofia de pub que paira sobre algumas dessas histórias, e Loach parece atingir algo autenticamente escocês, dentro e fora do imaginário. Existe até uma estratégia envolvendo kilts, os típicos saiotes. Muito bom.

P.S.: sim, o título é explicado no filme, e tem a ver com o whisky.

P.P.S.: desculpe a ocorrência de eventuais erros. Maior parte dos textos escrita entre uma sessão e outra ou ao fim de uma noite cansada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário