quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

J. Edgar



J. Edgar (2011), de Clint Eastwood

O novo Clint Eastwood é parte da Mostra, mas também das salas de circuito, e por isso tem exibições praticamente todos os dias (ou todos?). Parece estar atraindo uma boa cota de interessados, talvez por seu tipão Oscar, com alguns requisitos básicos (cinebiografia de gente americana importante, ator jovem sob maquiagem, roteirista premiado por Milk, diretorzão etc), embora tenha sido ignorado nas indicações. Já Leonardo DiCaprio conseguiu uma indicação ao Globo de Ouro, numa atuação que pode lembrar um pouco seu Howard Hughes em O Aviador, e melhor por lá.

Ao meu ver, existem três maneiras de assistir a J. Edgar. A primeira e pior delas é ser completamente tirado do filme quando DiCaprio aparece envelhecido por uma maquiagem bizarra para os padrões desse tipo de produção hollywoodiana, indústria com doletas o suficiente pra criar algo que não se pareça com uma máscara prestes a cair ou derreter. Dependendo da luz, lembra o Jon Voight.

Outra maneira é o vai-e-vem político, às vezes lembrando um Oliver Stone em seus momentos mais atrapalhados, ainda que bem intencionados (W.?). J. Edgar é mais um filme-pedaço da história dos EUA, realizado por um grande pedaço da história de seu cinema, mas ou Clint tem mesmo um grande desinteresse por esse lado do filme (mesmo ficando em segundo plano, duvido!), ou então temos, a exemplo da maquiagem, o típico "nas coxa". Ainda tento decidir, uma vez que boa parte do longa se concentra nos esforços de J. Edgar em estabelecer o FBI como herói público americano e de seu cinema, se aproveitando, principalmente, de uma promissora investigação envolvendo um bebê, pequena trama que chega a ficar meio confusa. Seu grande filme político, universalmente político, continua sendo a dobradinha A Conquista da Honra/Carta de Iwo Jima.

Por fim, o melhor J. Edgar é um filme de casal. Sempre muito foda ver toda aquela sensibilidade madura de Eastwood até nos seus feitos mais derrapantes. Que nem Além da Vida, trabalho anterior e pra mim um de seus piores, mas com uma cena de grande ternura passada numa aula de cozinha, dando vontade de abandonar o filme e ficar só ali, com aqueles dois. A segunda cena entre Hoover e Tolson (Armie Hammer, a dupla torre gêmea de A Rede Social, mais à vontade que DiCaprio) mostra do que esse realizador maiúsculo é capaz quando focado no que é humano (o plano que revela o truque de Hoover para parecer mais alto é a cara de Clint).

Autor de melodramas extremamente maduros, Eastwood escancara a rumorosa homossexualidade de Hoover, faz isso aos poucos, colocando um homem que tinha muito de escrotidão e conservadorismo num "filme gay" (falo isso pensando em J. Edgar selecionado para um Festival Mix ou Queer). Clint parece entender que cinebiografias são, mais que sobre alguém, versões de alguém. Há uma história de amor muito bonita e doída por aqui.

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