terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

"Mãe e Filha" e "A Árvore"



Mãe e Filha (2011), de Petrus Cariry

Existe algo muito dumal acontecendo em Mãe e Filha, filme brasileiro cercado de um clima que me pareceu, vá lá, demoníaco. A investida nesse tom "do capeta" me interessou a princípio e me desinteressou na medida em que tudo parecia se resumir apenas a isso: história infeliz, gente infeliz, tom pesado e certos elementos religiosos/cristãos (batismo, menção a Deus, quatro cavaleiros sertanejos do apocalipse...) que não conseguem se distanciar da irritante sensação de acompanhar um mero mumbo jumbo. Às vezes lembra um cinema de horror que nunca vai acontecer. Um porre, no fim das contas.

Querendo ou não, Mãe e Filha evoca ao menos três filmes: Tio Boonmee que Pode Recordar Suas Vidas Passadas (sons da natureza e um plano com protetor de mosquitos), O Bebê de Rosemary (o bebê) e Laranja Mecânica (trilha sonora), cinemas infinitamente maiores. Uma recente matéria da Folha Ilustrada sobre o atual cenário do cinema cearense menciona que críticos tem comparado o longa de Cariry a Tarkovsky e Ozu, o que, lendo isso, até entendo, mas definitivamente não foi algo que senti enquanto assistia, e ainda não sinto.

Como lembrou o amigo Rafael Parrode no fim da sessão, é um filme preocupadíssimo em fazer de cada plano um "plano-conceito". São 80 minutos de extrema pretensão, e dá sempre muita preguiça ver esse tipo de coisa, cada cena um beco sem saída de auto-importância.


A Árvore (2010), de Julie Bertucelli

Julie Bertucelli tem um primeiro filme bem bom e doído chamado Desde que Otar Partiu. Passou no mesmo cine Lumière que abriga a Mostra, em 2003 ou 2004, e agora exibe A Árvore, segundo filme da moça, que talvez tenha mesmo se decidido a direcionar seu olhar de cineasta para partidas, sobretudo como as pessoas, familiares, lidam com elas.

Em A Árvore, Charlotte Gainsbourg interpreta esposa e mãe que do nada perde um ente próximo e querido. Mora na Austrália (ela é francesa), numa casa construída ao redor de uma mangueira gigantesca capaz de fazer dessa moradia um brinquedo frágil, casa de papel. Em maior ou menor grau, a família acreditará que a consciência da pessoa falecida agora está contida na árvore, ali, de cara pra porta.

É um mote espiritual até interessante, mas Bertucelli o conduz bobamente, quase lembrando um filme de família chato, não muito distante de uma dessas enjoeiras que o Lasse Hallström se meteu a fazer há um bom tempo. De todo modo, Bertucelli filma a tal árvore com alguma imparcialidade, sem de fato vender um produto bonitinho sobre "reconforto da alma", mas também sem negá-lo. Nesse sentido, Gainsbourg se sai bem, atriz incomum num filme comum, sugerindo que poderia ser bem pior caso fosse uma Sally Field (!!!) no papel.

p.s.: Gainsbourg, que já trepou ao pé de tronco (Anticriso), aqui apenas dorme em um.

Filmes vistos na V Mostra O Amor, a Morte e as Paixões, em fev/2012.

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