sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

O Porto




O Porto (2011), de Aki Kaurismäki

Depois de uma primeira sessão cancelada, finalmente pude ver o novo Kaurismäki. Particularmente, o filme me levou a uma imersão impressionante, dessas que chegam a ser raras (há dois dias, também imergi assim no novo David Fincher, em cartaz, mas uma outra experiência). O Porto lembra em muito um cinema antigo, em parte o neo-realismo, mas sobretudo aquela simplicidade hipnotizante do cinema de Robert Bresson, impressão auxiliada pelo fato deste ser um filme francês de seu autor, um finlandês.

Sair de Um Conto Chinês e entrar em O Porto logo em seguida é uma coisa meio doida. São bem parecidos em aspecto do enredo, mas filmes muito, muito distintos. Aqui também acontece de um homem trabalhador se ver na situação de cuidar de um estrangeiro em sua casa enquanto procura seus familiares. No caso, o hóspede acidental é uma criança africana que chega ao porto do título em uma carga clandestina.

O elemento criança não chega a ser o principal, mas parece compôr com perfeição essa sensação de cinema do passado. Há uma participação curta de Jean Pierre-Léaud, o eterno Antoine Doinel de Truffaut, apontando um menino que, de certa forma, tem algo do Doinel ainda garoto de Os Incompreendidos.

É um filme mais leve que o outro Kaurismäki da Mostra, Luzes na Escuridão. Temos aqui um senso de humor mais explícito (cena na delegacia é uma preciosidade), mas só um pouco, pois o cineasta permanece em seu terreno um tanto... extraterreno, um cinema sem sol de fotografia que parece vir de luas, mas belissimamente preocupado com o calor humano.

Talvez o melhor dos mais de vinte que eu já vi da Mostra.

Visto na 5ª Mostra O Amor, a Morte e as Paixões

p.s.: há um filme tão grande aqui que nem o som zoado da projeção digital lhe tirou tanto do brilho. Aos 50 minutos, ruídos e decibéis se quebrando no som, agulhadas nos ouvidos nos tirando temporariamente de um cinema tão atmosférico. Fica o lamento e o desejo de uma outra sessão, numa outra sala.

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