domingo, 5 de fevereiro de 2012

Histórias Cruzadas (The Help)




Histórias Cruzadas (2011), de Tate Taylor

Tava numa má vontade com esse Histórias Cruzadas (The Help, título do livro em que é baseado) depois de ter visto o trailer, que mais sugeria um filme sobre gente branca legal boa de coração do que, de fato, a história das empregadas domésticas do Mississipi desavergonhadamente racista dos anos 60. Emma Stone interpretando menina estudiosa, aspirante a escritora e que tem a ideia de escrever um livro sob a perspectiva das empregadas negras, verdadeiras mães de criação das filhas das dondocas da cidade de Jackson.

Visto o filme, é como estarmos diante do Um Sonho Possível da vez, aquele em que Sandra Bullock (oscarizada pelo filme, yuck), loira e rica no papel, ajuda um negro a alcançar seus sonhos. "Como são legais, esses brancos. Os negros tem sorte de tê-los por perto", essas produções parecem nos dizer de canto de ouvido.

No caso de Histórias Cruzadas, indicado a Melhor Filme no Oscar deste ano, existe ainda aquele comportamento de filme cheio de si por realmente(?) acreditar estar fazendo uma espécie de homenagem ao outro, ao desfavorecido. Depois de O Último Dançarino de Mao, é o filme mais cara-de-pau presente na Mostra (e já em circuito), igualmente encerrado num dramalhão apelativo, nada sóbrio, esquema porrete de pega-lágrimas. Os 20 minutos finais me constrangeram bastante.

O elenco é todo muito bom, tipo de coisa que acaba se tornando imune - ou até se privilegiando - a uma direção tão quadradona. The Help tem quase 2h30 e esse Tate Taylor parece dirigi-lo via Twitter. Viola Davis (Dúvida) e Octavia Spencer (Arraste-me Para o Inferno) arrancam tudo de personagens tão rasamente escritos para premiações da Academia, uma delas com direito sair debaixo de chuva após ser demitida. Deuses de Hollywood continuam chovendo no molhado.

Outra indicada é Jessica Chastain (A Árvore da Vida), interpretando aqui uma barbie sonsa que me divertiu muito. A personagem, uma peruinha que é moderna sem perceber, por ingenuidade ou até ignorância, parece estar no filme para, além das artimanhas narrativas óbvias, servir de algum paralelo para Stone, ela uma moça  moderna por questão de inteligência. Diferença entre as duas, mas com um mesmo efeito, foi o que mais me chamou atenção nisso tudo.

Bryce Dallas Howard (Manderlay) também diverte como uma barbie megera top, quase vilã Disney, tendo seu obrigatório momento "levar o troco", e mais de uma vez. É uma personagem tosca, racista máxima que acredita, cinicamente, fazer o bem para os negros. Parece representar o filme.

p.s.: amigos tem me lembrado de uma verdade: The Help não chega a ser tão ofensivo quanto Crash, de Paul Haggis, esse uma coisa muito inacreditável.

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