terça-feira, 31 de janeiro de 2012

"O Homem que Não Dormia", "Submarino" e "Gainsbourg"

5ª Mostra O Amor, a Morte e as Paixões - DIA 4






O Homem que Não Dormia (2010), de Edgard Navarro

Vi ontem o primeiro sério candidato a pior filme da Mostra: O Homem que Não Dormia, do cineasta baiano Edgard Navarro (Eu Me Lembro). Sessão com não mais que 20 pessoas, todas muito risonhas e, a partir de certo momento, até gargalhantes. Eu me diverti, mas suspeito que pelos motivos errados. Sujeito ao meu lado também tirou umas risadas quase triunfantes dessa coisa toda que vimos.

O filme tem toda aquela pinta de projeto pessoalzão (e de fato é), um samba doido no folclore brasileiro e alguma preocupação espiritual/religiosa perdida em meio a todo um mau gosto que por si só não seria um problema, caso Navarro filmasse legal. Não filma, e o que temos é algo bem próximo do caseiro, câmera na mão e falta (ou excesso) de ideia na cabeça. Existem três cenas de gente mijando gratuitamente em frente à câmera, maior exemplo de provocação adolescente que teremos até o dia 09, creio.

Me lembrou aquelas situações em que dá aquele baque: "Onde foi que eu entrei e quanto tempo isso vai durar?". Pro melhor ou pior, é tão... tão... tão sui generis que dá pra ficar até o fim, só pra ver até onde Navarro consegue ir com seja lá o que ele tenha armado.


Submarino (2010), de Thomas Vinterberg


Priorizei e decepcionei. Priorizei por ser Vnterberg, cujo cinema parece ser sempre magnetizado por Festa de Família, sua fortaleza, bloco de pedra largado sobre a cabeça de muitos valores e filme mais poderoso da época áurea do Dogma 95.

Conta aqui a história de dois irmãos assombrados por uma tragédia que presenciaram ainda crianças. É como se Submarino tivesse o peso da desgraça sobre os ombros, ou, talvez melhor, na frente de um punho impulsivo. É um filme pesadão no clima, de estranha digestão, com Vinterberg confiante em excesso nas reflexões que acabam se revelando até fáceis demais. Problemático, principalmente num evento em que é exibido ao lado de uns belos Kaurismäkis.


Gainsbourg - O Homem que Amava as Mulheres (2010), de Joann Sfar


Ao contrário de J. Edgar, cinebiografia de um grande nome da cultura de um país dirigida por um ícone de seu cinema, temos em Gainsbourg a cinebiografia de um grande nome de outra cultura de outro país, mas dirigida por sujeito jovem e estreante. Esse Joann Sfar tem um tipo de energia nova que entra muito bem no filme do músico francês (mas também pintor, desenhista etc) Serge Gainsbourg, jogando umas brincadeiras muito interessantes com a imaginação do personagem (Éric Elmosnino faz o papel, muito bom).

Optaram pela versão alto astral da vida de Gainsbourg, "vigiado" aqui apenas por seu vício no fumo, quase sempre com um cigarro na boca, inclusive quando criança (é o segundo filme da Mostra que tem crianças fumando, sendo Submarino o primeiro; não é uma crítica, só uma observação). É glamour e festivo, prioridade que chega a deixar eventos da vida de Gainsbourg um tanto quanto acelerados. Mas é, sem dúvida, um filme muito gostoso de assistir, homenagem bonitona a um cara que representa muito bem um certo período da França.

No Brasil a produção ganhou o subtítulo "O Homem que Amava as Mulheres", título de um Truffaut e muito mais adequado do que o exagerado subtítulo francês, "Vida Heróica". Boa parte do filme se concentra no Serge conquistador, sujeito que não era dos mais bonitos, mas fez fama. Momento riquíssimo do filme é justamente quando traz a modelo Laetitia Casta muito apaixonantemente linda demais da conta como uma xerox de Brigitte Bardot, filmada com toda a admiração que a musa francesa merecia.

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