quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

"A Alegria" e "Tomboy"



A Alegria (2010), de Felipe Bragança e Marina Meliande


Ver os filmes dessa dupla é ficar com aquela sensação de que sua poltrona está, na verdade, pendurada num varal de cordel. Isso vale pro melhor e pro pior nesse cinema muito interessado em folclore e com alguns toques de fantástico, muito embora tudo soe como uma poesia colegial, o que, para o que A Alegria se mostra em tela,  pode ser de propósito.

Uma estudante (Tainá Medina) pode ou não ter perdido seu primo, um folião folclórico, em um tiroteio. Ele pode ou não ter virado um fantasma, ela pode ou não se tornar algo mais, o mundo pode ou não estar acabando. A Alegria poderia trocar de nome com Inquietos, de Gus Van Sant.

Não gosto do filme, mas Bragança e Meliande (A Fuga da Mulher Gorila) chamam a atenção por, pelo menos, investirem em certas ousadias, em elementos não tão comuns no nosso cinema (A Alegria tem um subtítulo). Há alguma criatividade, mesmo que os atores pareçam presos a um enorme pensar antes de agir e falar, mesmo que os 106 minutos acabem por lembrar um episódio de Castelo Rá-Tim-Bum. Há uma cena na praia que eu realmente queria ver em um filme melhor.


Tomboy (2011), de Céline Sciamma


Vi Tomboy no mesmo dia que Alegria. O filme de Céline Sciamma (Water Lilies) é sobre outras preocupações juvenis, todas elas ligadas, de uma forma ou de outra, à descoberta do corpo, essa coisa tão enigmática quando se tem por volta de dez anos de idade. No caso da criança do filme, existem algumas dores de cabeça adicionais, especialmente quando novos amigos querem jogar bola (com e sem camisa) ou nadar num lago.

Temos aqui filme com menos de 90 minutos que parece durar mais, bem mais. Sciamma parece ter esse problema no ritmo, seu Water Lilies, também com menos de 1h30, sofrendo do mesmo problema. Tomboy cresce em interesse quando dominado pelas crianças e, no entanto, parece algo distanciado quando se tem adultos/pais na tela, exceto num papo franco da mãe ("por mim tudo bem, mas..."), personagem que me pareceu forçosamente omisso por uma simples questão de fazer a história correr. É uma relação que me interessou e é, em boa parte, um ponto de interrogação.

De qualquer forma, Tomboy tem alguma noção de como crianças funcionam. Tem um final legal, desse que, com alguma sutileza, sugere que importante mesmo é estar disposto a conhecer as pessoas.

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