quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

"Riscado", "Turnê" e "O Último Dançarino de Mao"



5ª Mostra O Amor, a Morte e as Paixões - DIA 5





Riscado (2010), de Gustavo Pizzi

Entrei meio às cegas pra ver Riscado e foi muito bom. Filme me pegou de jeito com sua naturalidade e uma atuação sensacional dessa Karine Teles, a energia da tela. A relação que cria com o próprio cinema é interessante, às vezes linda de verdade. Parece ter um final difícil de largar.

Volto depois com texto mais falante.


Turnê (2010), de Mathieu Amalric

Esse eu queria muito ver. É do Mathieu Amalric, excelente ator francês, mais conhecido no Brasil por ter feito o vilão do último 007, Quantum of Solace, não um de seus melhores papéis. O Amalric diretor não realizava um filme desde 2001, quase dez anos, e esses retornos são sempre interessantes de acompanhar, mesmo que Turnê seja apenas seu terceiro longa. Volta com um filme sobre artistas de neoburlesque em turnê na França.

Temos aqui um filme francês em que se vê muito pouco do país, apesar da França estar sempre lá, nos cantos e na dupla noção de lar, o seu e o dos outros. Ao contrário de Adeus, Primeiro Amor, é uma França apresentada pelas beiradas, Amalric filmando-a indoors.

Em muito, Turnê é um filme sobre o pequeno espetáculo da vida, seus altos e baixos. O grupo artista é americano e tem no próprio Amalric o seu empresário francês. Eles não conhecem a França, tem limitada relação com a língua e tomam o empresário por uma relação de trabalho que muitas vezes também lembra a de um irmão, no melhor e pior.

Com seus shows burlescos de nudez e divertida sedução, corpo como instrumento de trabalho, a impressão é que o filme seria muito bem exibido na Mostra numa sessão dupla ao lado de L'Appolonide, de Bertrand Bonello. Ambos traze uma sensação de fraternidade bastante similar, embora sejam filmes de climas bem diferentes.


O Último Dançarino de Mao (2009), de Bruce Beresford


Já tinha algum tempo que eu não via uma bobagem dramalhônica tão grande quanto esse O Último Dançarino de Mao.

Conta a história de um dançarino chinês selecionado para passar um trimestre nos EUA em rápida turnê. Ele é criado e treinado no governo de Mao Tsé-Tung, onipresente em quadros presos a paredes, e o filme se concentra no choque cultural e político entre os países. Há algum senso de comparação até OK e bem pensado em alguns momentos, como a inversão de uma ideia que se tem da aparência dos chineses, mas Beresford (Conduzindo Miss Daisy), além de filmar quadrado, dá uma clara vantagem ao ocidente. A China vista aqui não aparece exatamente pelo que tem de bom e ruim, mas parece existir apenas para, no fim das contas, ser uma vítima de bullying durante os paralelos. Lado negativo dos americanos também é abordado aqui e ali, mas não é a mesma coisa. Muito estranho ver um filme vender a ideia de terra de oportunidades assim, tão descarada e, pior, nada convincente.

Li Cunxin, o dançarino, chega aos EUA aconselhado a manter e seguir seus princípios comunistas, palavrinha que os americanos despenderam muito esforço em demonizar, tendo resquícios até hoje ("When you pirate mp3s, you're downloading communism"; esse cartaz existe mesmo no mundo). Suas primeiras cenas lembram um gato assustado, mas que será logo domesticado, rendendo uns 40 minutos finais de "justiça" muito lambões e constrangedores, novelão que se entrega a um certo e errado (ou bons e maus) muito complicado. Quando o filme se encerra, cheio de si por ter feito um bem ao adaptar a história desse rapaz e realmente acreditar ter feito uma grande homenagem ao outro, dá vontade de esconder atrás de alguma coisa, fugir de gafe tão grande. O último plano é inacreditável na sua cara-de-pau.

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