quinta-feira, 29 de novembro de 2012

007 - Skyfall



Este novo 007 poder ser a melhor coisa para a carreira de Sam Mendes, cineasta oscarizado em 1999 por Beleza Americana e que não parece envelhecer muito bem, seus filmes ficando de alguma maneira corroídos pelo esforço de alguma memória mais forte deles. Você pensa em Beleza Americana e pensa numa sacola vazia deslocada pelo ar e fica mais ou menos nisso. Ainda gosto do filme (e dos dois seguintes, Estrada para Perdição e Soldado Anônimo), mas até quando?

007 - Skyfall traz Mendes à franquia do agente britânico, talvez o nome mais pomposo a comandar a série. Com Craig, Javier Bardem e Ralph Fiennes no elenco, temos aqui o 007 mais caro da história, superando 200 milhões em orçamento. É a cobrança da arena de blockbusters de hoje, embora Skyfall mire uma curiosa homenagem ao passado.

Se Mendes tem uma sólida chance de se renovar por aqui, a mitologia de James Bond, renovada em 2006 com Cassino Royale (o melhor?), encara o destino de reciclagem, inevitável. 007 consiste justamente em um personagem imortal do cinema, mas envelhecido a cada era, substituído por anúncios de novos atores, novas equipes, novos tempos, novo tudo.

Mesmo com a enfadonhice de Quantum of Solace (2008), o arco de Daniel Craig como Bond sempre foi interessante por essa perspectiva. Um Bond claramente pós-Jason Bourne, é tratado e se comporta muito mais como uma espécie de soldado, tendo consciência disso e, o melhor, às vezes grilado com tais condições. Em Casino Royale falava-se muito de ego, e assim o Bond de Craig vira curiosa mistura de brucutu e fragilidade, nos melhores sentidos.

Skyfall sugere a não muito distante conclusão desta sua curta era. Reflete sobre passagem de tempo, envelhecimento, passado. Emulando algumas simplicidades, chega a lembrar um filme de espionagem antigo, com uma trama girando em torno de algo muito simples: proteger M (Judi Dench) de um vingativo ex-agente (Javier Bardem), espelho do que esse Bond poderia se tornar.

Bardem é incrível, aliás. Por mais que esteja inserido no pacote clássico de vilanices e nas ligeiras afetações de um estereótipo, escapa de qualquer desconforto. Um amigo definiu seu personagem como Frank-N-Furter loiro, e é bem por aí. Vilão para recordar, introduzido por Mendes com um plano sequência fixo, Bardem vindo do fundo até chegar a um quase close, uma primeira cena toda para si. O diretor é melhor nesses pequenos momentos do que nas obrigatórias cenas de ação, logo percebemos (há um desastre de trem que é normal para os padrões de hoje).

A história de caça e proteção nos levará, enfim, a conhecer um pouco da vida de James Bond, suas origens. O fato de suas raízes transportarem o filme para a Escócia indica elegante aceno a Sean Connery, o primeiro a interpretar o papel e, não seria injusto dizer, grande responsável por justificar a longevidade da série.

Essa sequência escocesa é impressionante. Skyfall é arremessado dentro de outro filme, isolado um ou dois tons mais pessoais, tudo a ver com o 007 solitário e abandonado escrito para Craig. O cenário é um casarão antigo, que em certo momento pega fogo e ilumina as cenas feito um farol, não deixando dúvidas de que um 007 fotografado por Roger Deakins é um 007 no mínimo singular.

Pena Daniel Craig aguentar, no máximo, só mais um. Ele é bom demais no papel, tanto quanto as agonias de seu Bond.

Nenhum comentário:

Postar um comentário