domingo, 30 de dezembro de 2012

Curvas da Vida



A última vez que Clint Eastwood atuou num filme em que também não fosse diretor foi há quase 20 anos: Na Linha de Fogo (1993), de Wolfgang Petersen. Neste Curvas da Vida, é dirigido por Robert Lorenz, seus assistente de direção em várias produções, aqui estreando como diretor.

É difícil visualizar como se dão as relações humanas e de proximidade num meio industrial como Hollywood, pensamento de produção sustentado, em parte, por firmes contratos de patrão-empregado, como qualquer atividade empresarial. Temos aqui, então, aquela sensação de tapinha nas costas, com Lorenz comandando não apenas aquele que foi seu "superior" em várias ocasiões artísticas, mas uma espécie de entidade superior do cinema norte-americano.

Curvas da Vida espirra Clint Eastwood por todos os lados. Ele não só atua, como também produz um destes pequenos batimentos cardíacos dos EUA: o tradicional filme de esporte tipicamente norte-americano, que tem tudo a ver com Eastwood e seu elo com o país (western, cinema clássico, melodrama, história...).

Aqui, ele interpreta Gus, um experiente olheiro de baseball. Homem de papéis, olhos e ouvidos, resiste ao uso de tecnologias. É visto por colega de trabalho como alguém ultrapassado, digno de aposentadoria forçada. Gus tem uma filha, Mickey (Amy Adams), advogada a contragosto, o esporte sendo sua autêntica paixão, e boa parte do filme mira na alimentação desse relacionamento.

Cinema clássico, 2 + 2, dirigido por Lorenz como se Eastwood lhe tomasse a tabuada. São formulinhas e esqueminhas que o próprio Eastwood soube dominar desde cedo com tanto cuidado e amadurecimento, pacientemente lapidando seus filmes para que o jogo de emoções seja, enfim, jogado com a inteligência de quem sabe que esse tipo de ilusão pode ter um valor verdadeiro (atualmente, Ben Affleck, em cartaz com Argo, nos sugere um provável herdeiro desse cinema). Obras como Menina de Ouro e As Pontes de Madison vieram desse profundo esmero eastwoodiano.

A sabedoria vendida em Curvas da Vida, porém, é rasa, limitada a distinguir o certo e o errado via melodrama dos mais infantis. O antagonista de Gus é um jovem olheiro (Matthew Lillard, interpretando o babaca padrão) munido de computador e estatísticas, representando o lado bocó da tecnologia de ponta, como se esta fosse rival dos "instintos" in loco. Para concluir a vilania, ele também se revela um machista.

Cada um ao seu modo, eles observam um rebatedor promissor, garoto caracterizado como um bully, vilãozinho Disney asqueroso que a pesada direção de Lorenz não deixa dúvidas: odeie o rapaz e seja recompensado no final.

Há, também, um romance paralelo entre filha de Gus e o personagem de Justin Timberlake. Ele é legal, ela só lida com idiotas robóticos de escritório, então é um filme com pacote completo de figurinhas amassadas de tão batidas. Na trama paralela de Mickey, ela se reaproximará da vida mais simples e dos trajes não executivos ao mesmo tempo em que será sacaneada por gente de terno e gravata. Essas dicotomias aparecem no filme como letras escritas pelo Chorão do Charlie Brown Jr.

O prazer fica por conta da presença de Eastwood em uma de suas especialidades: o rabugento. Cada resmungo soa como um verso dadaísta.

Irresistível não se deixar levar pelo clichê e dizer que, se dirigido por Eastwood, Curvas da Vida talvez encontrasse algo de sólido. O longa abre com um cavalo correndo em direção à câmera, um plano muito a cara do cineasta, que vez o outra podemos vislumbrar em certas cenas e questionar o que poderia ter feito diferente de Lorenz. Nos rumos finais do filme, uma cena chave, situada num quintal, há o arremesso em câmera lenta de uma bola e a importância de um som, e não deixo de pensar se Eastwood não teria filmado o momento num plano lateral e mantendo fora de quadro a chegada da bola à luva.

Na melhor das hipóteses, fica a impressão de termos visto um Clint Eastwood de segundo escalão.

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