sábado, 3 de novembro de 2012

Looper



Filme de gêneros

Um filme muito bom que pode estar passando despercebido nos cinemas é Looper, que no Brasil ganhou o subtítulo Assassinos do Futuro. Apesar de esbanjar Bruce Willis e Joseph Gordon-Levitt em seus cartazes muito feios, a produção talvez tenha afastado aquela parte do público que vai ao cinema como vai a qualquer loja de shopping, em busca de produtos que serão trazidos em caixas do estoque, separadas por tipos e gêneros bem definidos. Num primeiro momento, nenhum problema quanto a isso, ao “ser de gênero” (temos grandes filmes assim), mas o próprio cinema, sobretudo na força de divulgação hollywoodiana, passou a criar espectadores que se orientam por seções de videolocadoras antes de procurarem interesses mais específicos em relação a este ou aquele filme.

Essa tarefa de classificar filmes em gêneros de prateleira, além de gerar eventuais bizarrices (O Paciente Inglês já foi AÇÃO para uma loja Blockbuster, anos atrás) teria em Looper um desafio. Policial? Ficção-científica? Drama? Que diabos?

Seu diretor e roteirista, Rian Johnson, já havia estreado em 2005 com algo um tanto incomum, o também muito bom Brick (aqui encontrado como A Ponta de um Crime), espécie de “noir colegial”. É um cineasta bem interessante em seus hibridismos, sem dúvida, e continua filmando muito bem, câmera leve e solta como um trapezista.

Aqui, Johnson nos leva a futuros, maior parte de sua história se passando em meados da década de 2040, vista aqui como um tempo sucateado, embora não apocalíptico. Na verdade, nada muito diferente do que conhecemos hoje, exceto por motocas voadoras, mas ainda motocas. Personagem de Levitt trabalha é um dos loopers, empregados contratados para matar pessoas que a máfia envia do futuro, 30 anos à frente, bela maneira de sumir com corpos. Às vezes, são os próprios loopers os alvos enviados, acordo milionário cujas consequências Johnson ilustra com o que parece ser um loop na própria narrativa (muito bom, mesmo). Toma essa, H.G. Wells.

Bruce Willis interpreta Levitt trinta anos mais velho. Num jogo de maquiagem incrível e, dizem, sem uso de efeitos especiais, temos Willis e Levitt muito parecidos em aparência. Os dois funcionam que é uma beleza, combinação curiosa entre uma eterna referência de action hero sólido e um pequeno querido cult (Gregg Araki que o diga) em ascensão a astro cool após ser adotado pelo bam-bam-bam Christopher Nolan (A Origem, Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge). Diálogo entre os dois num restaurante de estrada é importante para a narrativa e só convence na sua filosofia “deixe-se levar” porque é dado tempo a eles, a seus devidos olhares e falas.

Aquele espectador em busca do gênero perfeito ainda deverá estranhar seu sci-fi policial levar sua trama para uma fazenda tipicamente norte-americana e de lá não sair. Neste cenário, surgem outros dois personagens, mãe e filho que deixarão o filme alguns níveis mais intrigantes. O menino é... um fofo, pode acreditar.

Looper tem, enfim, a manha de ser "filme-de-viagem-no-tempo" na primeira metade e depois praticamente virar um horror paranormal, inquietação das boas que só vem a sossegar num final amarradinho.

Deve sair de cartaz logo, restando procurá-lo em locadoras, seja lá onde o enfiarem.

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