sábado, 3 de novembro de 2012

36ª Mostra SP - Dia de Garrone

Reality, de Matteo Garrone

O Resto do Mundo (Le reste du monde, 2012), de Damien Odoul

Damien Odoul está com dois títulos na 36ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo: A Riqueza do Lobo e o telefilme O Resto do Mundo, ambos de 2002. No caso do último, roncos e bocejos foram devidamente registrados durante a sessão.

Odoul fez de O Resto do Mundo o que se espera de produções para TV, uma coisa repleta de cabeças falantes, com mais da metade de suas cenas cortadas acima do pescoço, pensadas para se acomodar na tela pequena.

Nessa vitrine de rostos, a modelo canadense Marie-Eve Nadeau surpreende como protagonista. Ela é muito boa, apesar de ser tudo muito chato e enfadonho, dando aquela sensação de que televisão ruim é parecida em qualquer lugar.

O filme tem, por exemplo, interessante presença de Emmanuelle Béart em papel (coadjuvante) de acabada, mas que rapidamente se transforma num dos vários clichês de algo que quer ser tão baixo astral e mostrar que “famílias têm problemas”.

O filme fala de suicídio e gravidez para quem está em casa, jantando uma comida congelada qualquer.


Reality (2012), de Matteo Garrone

Reality não poderia se distinguir mais da chatice audaciosa que é Gomorra (2008), trabalho anterior de Matteo Garrone. Temos aqui um filme que gira entorno de apenas um personagem, Luciano (Aniello Arena, um achado), peixeiro de Nápoles que, a fim de agradar suas pequenas filhas, faz um teste para entrar no Grande Fratello, a franquia italiana do Big Brother.

Por todo o filme, o espectador é levado a acompanhar, de mãos dadas, um homem comum que adoece aos poucos.

Casado, três filhos e com certa estabilidade, ele imerge em suas próprias noções fantasiosas, clima de irrealidade sugerido por Garrone logo no plano de abertura, um maravilhoso movimento de câmera aéreo nos apresentando uma charrete vitoriana percorrendo as ruas da Nápoles moderna.

É o primeiro de muitos planos abertos que, com trilha de contos de fadas, envolvem Luciano numa cada vez mais triste sensação de esperança.

Maior parte do filme, porém, traz Arena bem próximo à câmera, rosto enorme na tela. Ator que se revela incrível, há um olhar infantil nele que chega a ter algo de Renato Aragão, piscando inocência por todos os lados, o que me pareceu de uma beleza muito especial.

É um sujeito grande reduzido a fraldas, psicologicamente falando, movido por obsessões e até mesmo paranoias, momentos realizados com risos e sorrisos. Há uma cena envolvendo um gafanhoto que é quase inacreditável como Garrone consegue encaixá-la com tamanha naturalidade. Reality diverte, mas sempre deixando um aperto sentido.

Seduzido por bizarrices e patetices, o universo das celebridades sempre foi solo fértil para criticar o que haveria de mais vazio em seu modo de viver, sua realidade paralela.

Filmes como A Malvada (1950) conseguiram refletir sobre isso com acidez exemplar, enquanto Fellini e seu A Doce Vida (1960) viram beleza e melancolia nesse mundo peculiar, mas com visão não menos crítica, olhar que também gerou um Woody Allen encarado como menor, Celebridades (1998).

Da grande sátira de Paul Verhoeven a Hollywood, Showgirls (1995), ninguém quis saber, infelizmente.

Garrone parece ter adicionado uma zoada sadia a essa lista que, claro, é muito maior. Cena situada em uma boate escancara seu desejo de ridicularizar o que já é facilmente ridicularizável, resultando numa galhofa boa de ver. Belo filme sobre aparências e ilusões, com indiscutível guinada em direção a um desfecho arrasador.


Hemel (2012), de Sacha Polak

Primeiro longa da diretora holandesa Sacha Polak, aqui tentando falar de sexo “numa boa”. Traz como título o nome de sua protagonista, Hemel (Hannah Hoekstra), moça bonita de doer e que parece viver para transar.

Além de homens, ela cultiva sua relação com o pai alguns graus acima na escala de intimidade, sugerindo algo de incestuoso que, podemos desconfiar, está ali apenas para adicionar mais um elemento sexual à vida da garota.

Acaba soando como um soft porn que se finge de filme para adolescente pensar, o que provavelmente seria medíocre mesmo se não fosse fingido, mergulhando em moralismos e conservadorismos óbvios assim que personagens vestem roupa.

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