sábado, 3 de novembro de 2012

36ª Mostra SP - Na Neblina, de Sergei Loznitsa




Filme de sons e corpos ao redor
*escrito em 29 de outubro de 2012

Na Neblina teve a presença de seu diretor, Sergei Loznitsa, na sua primeira exibição na Mostra. Loznitsa apresentou seu trabalho se dizendo curioso em saber como uma parte do mundo não tão próxima da guerra receberia seu filme, que se passa ao oeste da União Soviética, então ocupada por nazistas. A Mostra exibe toda a carreira do diretor, numa incrível oportunidade de conferir seus documentários.

O ano é 1942 e o início de seu filme não poderia ser mais depressivo. Começa com um longo plano que leva a três enforcamentos, execuções que terão sua importância na história. É um plano que já dita com perfeição o tom impiedoso do qual Loznitsa cuida com atenção e, vá lá, algum carinho. Aqueles que assistiram a Minha Felicidade (2010), sua ficção anterior, puderam se preparar para esse tipo de ninar pesado. Ao lado de Além das Montanhas, de Cristian Mungiu, é a exibição que mais se sente à vontade no gélido ar condicionado dos cines Frei Caneca.

Dos três personagens centrais, um se destaca: Sushenya (Vladimir Svirskiy), sujeito acusado de traição. Em sua casa, ao lado da mulher, Sushenya é levado por um oficial da USSR e seu auxiliar. O objetivo é executá-lo a algumas centenas de metros dali, numa relação de captores-prisioneiro que chega a ensaiar algo de western. A missão não sai como esperada, muito embora Na Neblina não abandone em nenhum momento seu clima fatalista.

Os três homens estão mais para almas que vagam por campos distantes da guerra. Seus corpos, enquanto indivíduos mais sólidos, estariam nos flashbacks reservados a cada um deles. A Sushenya são concedidos os grandes momentos de Na Neblina, desde uma solitária lágrima, imagem que parece sintetizar o filme em sua solidão e tristeza (e, não muito atrás, desespero calado), até o último plano, uma elegante justificativa para o título. É um homem que carrega corpos.

Na Neblina é bem capaz de crescer conforme as pessoas deixam a sala, caminhando num ritmo semelhante ao do cinema de Loznitsa, como se fossem executar ou ser executados. O longa me parece ser baseado em som de tiro, assim como Blokada (2006), da carreira documentarista do cineasta, e seus poderosos sons destrutivos inseridos nas imagens de registro de um apocalipse real. Aqui, os tiros são altos e doídos, como devem ser as guerras.

Após a sessão, o diretor respondeu a algumas questões dos espectadores. Perguntei sobre o seu cuidado com o som, que tanto me impressionou. Loznitsa  disse ser sua parte preferida, a mixagem de som, mais que qualquer outro processo de filmagem. "Para mim, sons não são apenas sons. São música." Curiosamente, revelou não estar muito contente com os sons de tiros e explosões.

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