sábado, 20 de julho de 2013

O Homem de Aço



Herói de brinquedo

Até então, Hollywood nunca dedicou maiores atenções a esse lado meio sci-fi presente em Superman. No seu melhor e no seu pior, a quadrilogia com Christopher Reeve trazia um clássico filme de super-herói, sem mais nem menos, enquanto o Superman Returns (2006) de Bryan Singer, uma bonita homenagem (embora financeiramente fracassada, tanto é que estamos aqui, de novo), pegava o personagem pelo seu lado de entidade, espécie de deus vigilante da Terra.

A ideia de um Super-Homem focado no aspecto alien da coisa toda é algo de interesse, sobretudo para uma segunda tentativa de renovar a franquia, mas este O Homem de Aço parece ter virado um filme de invasão alienígena dos mais destrambelhados. É escrito por David S. Goyer e produzido por Christopher Nolan, dupla bem-sucedida no novo Batman, e dirigido por Zack Snyder (300Watchmen), que deve ter escrito "filmo quadrinhos" em seu cartão profissional e no perfil do LinkedIn, sendo esta sua terceira adaptação de HQ. Na faixa de comentários do DVD de Madrugada dos Mortos (2004), seu primeiro (e bem bom) longa, Snyder não economiza no elogio "rockstar!", o que ilustra bem o tipo de empolgação do sujeito.

São, basicamente, duas horas do que seria uma espécie de Superman Begins, um tanto desviado de sua mitologia (a relação com Lois é de outra nascente) ou explicando parte dela (o "S" que não é um "S", por exemplo), e o desfecho só confirma essa sensação de termos acompanhado um longo prelúdio. É, enfim, a história de um extraterrestre que vem parar na Terra. Um pouco como E.T. (1982), como O Enigma de Outro Mundo (1982), como Starman (1984), como O Homem que Veio do Espaço (1976), só que esse homem é o Super-Homem, e Snyder, muito afobado em mostrar o quão nerd seu filme pode ser.

O Homem de Aço começa no planeta Krypton pouco antes de sua destruição. É uma introdução ao herói maior do que a que estamos acostumados e que mais parece um sétimo episódio de Star Wars, com cenas de um Jor-El (Russell Crowe) atlético montado num bicho alado gigante. O filme não fica mais brega que isso, o que, por um lado, talvez seja até bom.

Após enviar seu filho para a Terra, Jor-El é assassinado por Zod (Michael Shannon, visto por Hollywood como um especialista em papel de doido, e, de fato, muito bom nisso), general militar que planeja um Golpe. A traição é punida com banimento quase eterno, sendo Zod e seus seguidores aprisionados em capsulas fálicas e lançados no espaço. Não adianta muita coisa para nenhum dos personagens: Zod e seus soldados escapam e iniciam a procura por um já adulto Kal-El, transformado pela atmosfera terrestre num super-humano, e Jor-El vive em espírito, auxiliando quando necessário, indicando o que fazer, onde ir e onde clicar, como se fosse o clipe de ajuda do Word.

A julgar pelo sucesso de alguns blockbusters recentes, o espectador ainda pode começar a lembrar de Prometeus (2012) e Guerra dos Mundos (2005) na aparição de algumas tecnologias alien e se sentir numa sessão esquizofrênica, sem uma personalidade muito própria, exceto por Henry Cavill, um Superman de olhos humildes. Essa simplicidade no olhar é mais reveladora que o evidente paralelo com Jesus Cristo (Clark numa capela, vitral cristão ao fundo...) ou que os esforços de suas mensagens paternas, sugerindo que Cavill talvez merecesse um filme melhor.

Nolan e Goyer, que procuraram revestir um homem-morcego com o máximo de credibilidade, parecem ter sido convocados como cães-guias de Snyder, que abandona aquele seu típico excesso de câmera lenta regada a hormônios adolescentes e filma seu Superman quase todo via calculada câmera na mão (o compositor Hans Zimmer também vem no pacote Nolan de produção, cria um tema até elegante, mas o resto da trilha é qualquer coisa). Um ou outro zoom pode ser percebido aqui e ali, em cenas de voo de naves ou do protagonista, tal qual um "cinegrafista amador" (às vezes é um amador que teria de estar num helicóptero...) captando aquilo, um tipo de imagem que surge espremida entre o que realmente parece interessar na direção, que é colocar o espectador na garupa desse homem que voa e aumentar a velocidade, como se ele fosse um brinquedo. Convém lembrar que tanto com Reeve quanto com Brandon Routh, os heróis anteriores, esse tipo de coisa tendia mais para o onírico, acentuando o desejo de uma habilidade sobre-humana.

Ao fim duma sessão exaustiva, fica a impressão de algo desengonçado, desastrado, em que as puxadas para o "real" são traídas a todo instante por um atropelamento de efeitos especiais que deixa tudo com cara de filme de ação genérico, onde a ordem é quebrar e fazer barulho.

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