segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Melhores e piores de 2012


Um dos vícios da cinefilia é esse negócio de listas. Todo ano tem. É bom, é rápido, é passagem. Mas depois de dois dias elas já meio que ficam escanteadas, os filmes já se embaralharam em suas posições. Acabam servindo como uma espécie de guia para quem por acaso gosta de acompanhar esse tipo de coisa, de indicação rápida, e também como aquele ato não menos cinéfilo de defender esta ou aquela obra.

Ficam aqui os filmes que estrearam comercialmente no Brasil. Muita coisa de 2012 eu vi em festival ou mostra, filmaços como O Som ao Redor, Na Neblina, Tabu e Além das Montanhas e que serão lançados comercialmente apenas em 2013.

Do que pude ver dos lançamentos oficiais, fico por aqui. Não vi o novo Kiarostami, nem o muito elogiado Mistérios de Lisboa. Ano corrido.



1) Millenium - O Homem que Não Amava as Mulheres ( The Girl with the Dragon Tattoo, 2011), de David Fincher

Fincher fez outro filme de serial killer que em vários aspectos lembra um filme de monstro, seu terceiro. Seven e Zodíaco também nos levam a uma agonia perturbadora em meio ao que parece ser apenas investigação, nos deixando, por fim, numa toca, na boca de uma criatura, por mais humana que seja.

Este Millenium talvez seja o maior nesse sentido, além de filme de amor muito bonito.

2) Drive, de Nicolas Winding Refn (2011)

Mais um filme de amor, aqui um pouco mais brutal. É uma jornada cinéfila pelo cinema "de carros", assim como À Prova de Morte, de Tarantino, também era, mas com outra música na pista. Refn é cool do jeito dele; é posudo, do jeito que muita mise-en-scène consegue brilhar. É um beijo de martelo.

3) O Porto (Le Havre, 2011), de Aki Kaurismäki

Kaurismäki (O Homem sem Passado, Luzes na Escuridão) em seu terreno um tanto... extraterreno. Um cinema sem sol, de fotografia que parece vir de luas, mas belissimamente preocupado com o calor humano.

4) Holy Motors (2012), de Leos Carax

Tipo de cinema que te pega de calças curtas, não só por obviamente flertar com certo surrealismo, o que costuma ser automaticamente intrigante, mas por versar de alguma forma com o processo de construção ficcional. Faz isso não de maneira metalinguística, mas do que parece ser o acompanhamento de "missões" de um ator, talvez preso pelo próprio cinema de Carax. Por fim, Holy Motors dá uma cambalhota e surpreende como um filme sobre... limusines (será mesmo?). Só vendo.

p.s.: o filme de Carax é, na verdade, uma dúvida, o que me move a revê-lo mais uma, duas vezes, sem muito tardar. Pode ser que eu não venha a enxergar mais nada ali, achando tudo uma coleção boba de momentos bonitos. Por enquanto, até mesmo este risco me fascina, e não desgrudo desses momentos.

5) O Espião que Sabia Demais (Tinker Tailor Soldier Spy, 2011), de Tomas Alfredson

Cinema atmosférico. Tão sutil na narrativa que, mesmo envolvente no clima construído, ela pouco importa (e parece ser feita exatamente pra isso). Em grande medida, brinda e homenageia o passado; as pessoas e seu tempo. É, também, um terno filme que valsa com o homoerotismo.

6) L'Apollonide - Os Amores da Casa de Tolerância (2011), de Bertrand Bonello

Das mais belas dedicatórias que a profissão mais antiga do mundo poderia ter.

7) Habemus Papam (2011), de Nanni Moretti

Um Papa em crise, um ator frustrado. O Vaticano como o grande palco de uma farsa.

8) Minha Felicidade (Schastye moe, 2010), de Sergei Loznitsa

Estreou no Brasil com dois anos de atraso, mas iluminou Loznitsa aos nossos olhos. É um cinema duro, sua primeira ficção, ele que por muito tempo ficou acampado na área do documentário, alguns deles muito fortes (Blokada), outros, experiências curiosas de visão e audição (Paisagem). Em maior e menor escala, Loznitsa parece interessado em como negociações de poder com outras pessoas criam trajetos de dor e angústia.

O filme endurece como cimento e tem um olhar pessimista sobre a Ucrânia. Em 2012, Loznitsa apareceu com Na Neblina, que me impressionou ainda mais.

9) A Invenção de Hugo Cabret (Hugo Cabret, 2011), de Martin Scorsese

Scorsese professor, módulo História do Cinema, mas lecionando na beirada da cama, num conto de despertar. E os Lumière, ao lado de Méliès, ganham outra dimensão. Único 3D que realmente me agradou.

10) La Vida Útil - Um Conto de Cinema (La Vida Útil - Un Cuento de Cine, 2011), de Federico Veiroj

Filme com um forte clima de solidão e abandono. Não exatamente de pessoas (de alguma forma, elas estão salvas, surpreendentemente!), mas a solidão de um tipo de cinema e, não muito atrás, de um tipo de prazer.

Menção honrosa: Looper - Assassinos do Futuro (Looper, 2012), de Rian Johnson

O filme é uma doideira, desdobrando-se em três. O desfecho é quase bunda mole, mas até lá você já lembrou até de Carrie - A Estranha. Massa.


PIORES DE 2012

1) 2 Coelhos (2012), de Afonso Poyart


"Parece que Guy Ritchie e Zack Snyder vomitaram ali", disse um amigo. Eu não conseguiria resumir melhor.

2) Histórias Cruzadas (The Help, 2011) de Tate Taylor

Filme sobre gente negra que tem sorte de ter gente branca legal por perto. Uma sessão dupla com aquele Crash - No Limite seria pra sair sequelado.

3) Branca de Neve e o Caçador (Snow White and the Huntsman, 2012), de Rupert Sanders

Charlize Theron em nota errada, lôcaça de bruxa, é quase divertido. Mas Hollywood está empenhada em transformar todos os contos de fada em clipes da Avril Lavigne.

4) A Dama de Ferro (The Iron Lady, 2011), de Phyllida Lloyd

Meryl Streep ficou parecendo o Jigsaw. Ela tá ótima. O filme é horrível. Equação chata e não muito incomum na carreira dela.

5) Rock of Ages (2012), de Adam Shankman

Só consigo pensar que isso é uma adaptação não oficial de Guitar Hero.

6) O Homem que Não Dormia (2012), de Edgard Navarro

Deste eu até conheço defensores sérios, mas não consegui entrar no que quer que fosse.

7) Jogos Vorazes (The Hunger Games, 2012), de Gary Ross

Battle Royale, só que chato e frufruzento.

8) O Vingador do Futuro (Total Recall, 2012), de Len Wiseman

Cinema vaga-lume. Cinema de ficar jogando luzinha na sua cara. Cinema oftalmo.

9) O Espetacular Homem-Aranha (The Amazing Spider-Man, 2012), de Marc Webb

Andrew Garfield é bom, mas isso aqui é como repetir de ano em colégio diferente.

10) Beleza Adormecida (Sleeping Beauty, 2011), de Julie Leigh

O filme parece mesmo buscar a sensação de sonolência, de sono induzido. Parabéns.

Obs: quase coloquei Moonrise Kingdom entre os piores, um Wes Anderson que tem se revelado dos mais queridos. Adoro Anderson, mas ali me pareceu que este autor infelizmente (e inevitavelmente?) chega ao ponto de se reduzir aos seus cacoetes. Não seria o primeiro, claro; Tim Burton entrou nessa já há algum tempo.

É um filme doce e eu vejo algo de bonitinho naquele casal infantil, mas eu saí da sessão como se tivesse saído de uma aula de maquete, entediadíssimo. Tem o tipão de um campo de mini-golfe.

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