Este novo O Vingador do Futuro me parece muito
mais uma nova adaptação do conto de Philip K. Dick do que um remake. Na balança dos dois, este aqui é
bem menos divertido e impactante, se encolhendo num visual já muito explorado
pelo cinema de ficção científica, tendo em Blade
Runner, também de uma história de Philip K. Dick, talvez a grande
referência de um futuro sujo.
Pesa bastante o fato
de, agora em 2012, um diretor como Len Wiseman (dos dois primeiros Anjos da Noite, série de filmes
protagonizada por sua mulher, Kate Beckinsale, aqui em outro papel fico-linda-nervosa)
comandar esse tipo de coisa. A cada cena de ação, fica evidente um diretor
influenciado por videogame, o que, a priori, não seria um problema, mas, assim
como games ruins (e filmes ruins), seu objetivo único parece ser chegar a estas
cenas. O primeiro confronto entre Colin Farrell e um grupo de guardas que o
cerca deve ter dado um mínimo de trabalho tecnológico, num tipo de cena que
parece apitar “Aqui vocês devem curtir!”. Pouco depois, uma cena de perseguição
a pé lembra um joguinho de plataforma.
A história é a mesma,
exceto que agora não se passa em Marte, mas na Terra. No ano de
2000-e-lá-vai-castanha, o planeta está dividido em duas habitações: uma Europa
colonizadora e uma Oceania colonizada. Os dois polos são conectados por um
corredor chamado A Queda, responsável por transportar a classe trabalhadora
residente na Oceania até as terras europeias em seu crescimento ditatorial. O
operário Quaid (Farrell) pode ou não ser um agente secreto a serviço dos
rebeldes, e suas ações durante o filme podem ou não ser fruto do implante de
memória Rekall que, enfim, move a trama.
O princípio da dúvida
acaba diluído pela fácil percepção de estarmos diante de um produto de ação
comum. Mais de 20 anos de padronizações diversas faz com que uma mulher de três
peitos seja, antes de uma surpresa (ou susto) sexual, uma gostosa qualquer. Não
é divertido, é só um peito a mais num futuro que escuta dubstep nas ruas e tatua néon. Há luzes por toda parte nesse futuro
e Wiseman acha legal usar flares em
quase toda cena, como se tivesse filmado com uma lanterninha ao lado da câmera,
mais que em todos os filmes de J.J. Abrams juntos. Ficção científica da luzinha
na cara, sci-fi vagalume. Irritante.
Em 1990, Paul Verhoeven,
cineasta interessantíssimo, teve no contexto das memórias marcianas um campo
perfeito para, com seu olho muito particular para imagens enamoradas de
nervosismo e estranheza, criar cenas que seriam capazes de permanecer na
memória (os olhos esbugalhados, a máscara digital se partindo...). 22 anos
depois, é tudo muito sério demais e, pior, com as banalidades hollywoodianas
levadas a sério demais (enquanto Verhoeven, lembremos, as satirizava), como o
final obsoleto, agarrado à mocinha e ao pôr do sol.
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