O novo Fernando Meirelles chegou aos nossos cinemas cerca de
um mês depois do novo Walter Salles, Na
Estrada. São dois cineastas brasileiros de respeitada propulsão
internacional, ambos, percebemos a cada filme, tentando manter parte dos passos
num estilo que desafie maiores convenções hollywoodianas. Suas câmeras na mão
parecem autênticas, ainda que câmera na mão não seja novidade alguma para
Hollywood há anos.
No caso de
Meirelles, o vemos aqui numa relação com o multiplot
que se tornou típico da Hollywood independente, importadora de Iñarritus e
Arriagas, filmes que correm o grande risco de tentar resumir o mundo
globalizado em uma série de coincidências (Paul Haggis, de Crash, também entra na lista). São quase anedotas, só que quase
sérias. Difícil...
Foi então
que, somente duas ou três horas depois, percebi ter gostado de 360 mais pelo que ele não é do que pelo
que consegue ser (o que ainda não sei dizer exatamente). Meirelles consegue não
ser iñarritante como os últimos filmes do mexicano, e este seu trabalho flui
sem forçar a barra; sem querer, aparentemente, se mostrar acima dos acasos do
mundo. Ajuda o fato de o elenco-de-aeroporto (brasileiros, americanos,
britânicos, russos...) ser bom e de Meirelles ter as manhas com atores,
configurando desfile de línguas e nacionalidades que, de algum modo, criam
corpo.
Maria Flor,
por sinal, protagoniza a historieta que mais me chamou atenção, diretamente
conectada com as de Anthony Hopkins e Ben Foster. Como geralmente acontece com
esses filmes, somos submetidos a histórias que nos interessam mais que outras,
e nesta temos Flor e Foster num belo jogo de olhares e insinuações diversas,
algumas apenas para o espectador. Uma câmera passando pela nuca de Flor, menina
cheia de mágoa e doçura, dita o tom quase completo da cena, que tem no
personagem de Foster, em papel de ex(?)-estuprador, um otimismo que não beira
nada de fajuto, talvez o único. É muito bom ver os dois em cena, juntos.
No cruzamento de histórias, Maria Flor ainda contracena com
Anthony Hopkins, aqui numa atuação digna de seu histórico. Já era tempo. Hopkins-Flor-Foster
rendendo os 25 minutos de maior interesse, sobram outros 100, ótimo material
para as jogadas de reflexos e montagem tão ao gosto de Meirelles, imprevisíveis
(difícil esquecer a mesa “invisível” em Ensaio
Sobre a Cegueira), mas que não parecem ir muito além disso. Há tantos
reflexos, janelas, vidros e espelhos em 360
que às vezes eu me sentia diante de uma vitrine e de manequins se esforçando
para ter sua existência justificada.
O desfecho – obviamente cíclico – fecha o filme como um
cadeado, com uma piscada sabichona para o público. É uma conclusão que me
incomoda justamente por acolher uma teia de acasos mais importante que aqueles seres,
pessoinhas até então mais ou menos ricas apenas em suas insignificâncias e
relacionamentos, como se elas precisassem de um tapinha nas costas que garantisse o conforto universal. Acabam resumidas, minutos antes, por uma rápida montagem
que traz de volta todos os personagens, quase como um comercial da Nextel.
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