domingo, 29 de janeiro de 2012

"Inquietos", "Saturno em Oposição" e "Tetro"



5ª Mostra O Amor, a Morte e as Paixões - DIA 2




Inquietos (2011), de Gus Van Sant


A sessão de 13h30 de O Porto, do Kaurismäki, foi cancelada devido aos clássicos "problemas técnicos", dando lugar a Inquietos, novo de Gus Van Sant que parece ser dos mais aguardados da mostra, sendo indiscutivelmente escolhido dentre quatro opções de títulos substitutos. Ou seja: trocaram um dos que eu mais aguardava por um que já vi e não gosto.

Tive então a oportunidade de rever boa parte desse filme que parece querer tratar a morte com uma certa fofura. É Van Sant mais uma vez interessado num universo jovem muito particular, mas que realmente encaro como seu maior ponto fraco desde Gênio Indomável (é, eu gosto do remake de Psicose). Tem, no entanto, o pequeno brilho de dois jovens atores, a já relativamente conhecida Mia Wasikowska e Henry Hopper, filho de Dennis; o menino é cópia carbono do pai, ícone do raivoso cinema americano setentista, Easy Rider entre eles.

No filme, os dois se conhecem em um funeral, local perfeito para esse casal adolescente que demonstra grande intimidade com a morte, cada um ao seu modo. Ele, por exemplo, tem um amigo... diferente, elemento que deixa o filme crescer um pouco além de suas obviedades e insistências acerca do fim da vida. Inquietos bate tanto no assunto que quase dá pra visualizar a Morte com foice e capuz sendo conjurada em algum momento, e isso tem lá seu nível de chatice.

Tudo isso é tratado por Van Sant com tristeza e doçura, sovados numa bacia só, caindo naquele tipo de filme que se esforça muito pra mostrar como melancolia e solidão são subvalorizados. Praticamente um cupcake sabor morbidez.

Saturno em Oposição (2007), de Ferzan Ozpetek


Do Ferzan Ozpetek eu só tinha visto Um Amor Quase Perfeito (Le Fate Ignoranti, 2001). Ozpetek é cineasta turco radicado na Itália, onde estudou e faz carreira. Seu cinema parece direcionado a filmes, digamos, compreensivos, como se colocasse uma mão no ombro de um e outro personagem. Saturno em Oposição segue essa linha, tentando oferecer algum conforto a um homem e seu círculo de amigos, todos tentando lidar com uma tragédia geral maior, entre outros problemas, como traição.

Ao lado de Triângulo Amoroso, a brincadeirinha adolescente de Tykwer, é outro filme sexualmente diverso da Mostra, aqui com uma sobriedade que dispensa um discurso mais explícito. Os rápidos contatos entre um homem e o pai de um rapaz são bem bons. Há uma cena de questionamento entre eles que corre de maneira até amistosa, aparentemente visando, mais uma vez, uma dessas compreensões. Mediano no geral (o problema familiar do personagem de Stefano Accorsi - ator que gosto muito - só engata no final, por ex.), o filme talvez ofereça conforto a algumas pessoas.

Tetro (2009), de Francis Ford Coppola


Tetro é de uma elegância espanglesa em preto-e-branco hipnotizante. Créditos iniciais e créditos finais já me pegaram de jeito nesse sentido. Embora não seja um grande Coppola (mesmo porque o grande Coppola é aquele dos anos 70 e 80, cineasta histórico por conta desse período), gosto do filme, principalmente da primeira metade, quando um rapaz tipicamente americano (Alden Ehrenreich), garçom de um cruzeiro, acaba caindo na Argentina, onde procura Tetro (Vincent Gallo, ator-diretor-roteirista daquele filme muito bonito chamado The Brown Bunny, injustamente lembrado apenas por seu bolagatismo), seu irmão mais velho, tentando criar alguma relação de família com ele.

Família é o elemento forte da obra de Coppola, presente e desenvolvido de maneira incomparável na trilogia O Poderoso Chefão. Tetro, no caso, é um filme bem menor que os Chefões, mas muito pessoal, como muitos filmes menores. Tem nele a melhor atuação de Gallo que já vi, acompanhado de uma Maribel Verdú (O Labirinto do Fauno) endeusando a tela em todos os sentidos possíveis. Diante desses dois, esse Ehrenreich só preenche o papel. Fazer o que?

Tenho problemas com o final. Não por conta de seu twist, mas todo o depois, artificializado, muito por conta de Ehrenreich, que tem dificuldade em entrar na novelinha. Não gosto da última cena dos dois, mas Coppola filma maravilhosamente, seu jogo de luzes é um desbunde, livre em uma produção só sua, cinema que sempre defendeu arduamente.

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