segunda-feira, 6 de maio de 2013

Homem de Ferro 3


Coice de ferradura

O que dizer de uma produção que toma conta de praticamente metade das salas de cinema comerciais do Brasil? Entre legendadas e dubladas, comuns e 3D, são 1250 cópias enforcando o circuito. Para o espectador ocasional, aquele que movimenta a carreira econômica de um filme, o que é oferecido nestas próximas semanas se resume a "Homem de Ferro e o resto".

É uma tática simples e eficiente para a indústria que tem dinheiro. Maioria absoluta do espaço, redução da concorrência, domínio significativo. Estratégia rinocerôntica, dessas que atropelam mesmo. Homem de Ferro 3 bate o recorde do último longa da saga Crepúsculo em cerca de 15 salas. Não se trata apenas de divulgação e preocupação com cifrões, logísticas de mercado que todos os filmes têm e precisam ter. Isso é outra coisa. Isso é massacre.

A solução seria alugar o Brasil, ou melhor, as salas do Brasil, como defenderia Raulzito? Talvez fosse hora, numa aurora qualquer, de pedir uma xícara de açúcar à vizinha Argentina e observar como funciona por lá. Pode ser uma conversa na calçada mesmo, sem muito tempo a perder.

O que dizer aqui, então? Faz alguma diferença? Os três filmes, lançados num período de seis anos, me parecem sofrer da mesmacoisice desses produtos Marvel que, a bem da verdade, se unem em algo minimamente bem amarrado. É o investimento no seriado e na homogeneização, onde Homem de Ferro se diferencia somente pela presença - ou posse - de Robert Downey Jr. Aqui, no terceiro, ao menos há uma leve mudança de tom, uma melhorada no humor, com Shane Black (Beijos e Tiros) substituindo o inócuo Jon Favreau na direção. Ecos evidentes de Máquina Mortífera, roteirizado por Black, podem ser percebidos, o que acaba por ser interessante.

Mais interessante, porém, é a relação com o novo antagonista, o Mandarim. Tanto Tony Stark quanto o inimigo desenvolvem relações distintas com as imagens: Stark ostenta-se como figura pública, enquanto o Mandarim preza pelo anonimato. Ambos investem em representações e encenações como táticas de guerra, cada um tirando, à sua própria maneira, proveito do poder de engano das imagens. Seria quase proveitoso, não estivesse o filme comprometido com os lugares comuns desse universo Marvel que se recusa a sair da zona de conforto. Kenneth Branagh em Thor teria sido uma tentativa recente de correr alguns riscos, mas nada comparado ao que Bryan Singer, Sam Raimi e Ang Lee conseguiram fazer.

Sobra aqui uma espécie de celebração daquele que constrói. Hollywood vende o personagem de Stark como um mecânico, embora não deixe de ser um milionário. É um produtor, diz essa equação. E um produtor de imagens poderosas, afinal, ao ponto de levantar questões a respeito do uso de tanto poder. Desde o primeiro longa, o produto Homem de Ferro, aquela armadura e tudo o que a envolve, é associada a um contexto bélico, reforçado pelos studios Marvel ao tentar aproximar seus heróis do "nosso mundo" (noticiários, revistas, jornais...).

Com tamanha riqueza e tamanho poder, é preciso que o herói tenha a consciência de seu lugar no mundo e, não muito atrás, um compromisso, situação que também ocorre com o Batman, da DC, este com sua própria carreira de blockbuster cinematográfico. As duas franquias - e o termo já indica uma forma de pensamento -, contudo, não parecem ter o mesmo cuidado, sustentadas por seu modo glutão de se colocar diante do público.

"E diverte?", me perguntam. Até que sim. A questão, no entanto, é se, nesta ocupação astronômica de salas, há tempo e espaço para descobrir se "o resto" também pode ser no mínimo divertido.

Um comentário:

  1. Ainda estou na curiosidade de ver Homem de Ferro 3, cada vez mais que leio sobre fico mais interessada em assisti rsrs'

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