sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Vanishing Point (1971)



O último herói da América

A primeira vez que vi Vanishing Point (1971) foi na TV a cabo (no Brasil, recebeu o título de Corrida Contra o Destino). Já tinha assistido a Easy Rider (1969), filme de Dennis Hopper tido como um dos marcos iniciais da New Hollywood, um acontecimento certeiro, efeito do momento, lugar certo, hora certa, loucura certa. Os dois são siameses, mas o filme de Richard Sarafian me pegou mais, me disse mais. Continua assim.

O filme acompanha o imparável Kowalski na sua corrida para chegar a São Franscisco em até três dias. Sua motivação parece ser a simples velocidade, sua droga simbólica e literal (speed), levando um Dodge Challenger 70’ branco a uma América em início de nova década, sendo cruzado e atropelado por remodelações da cultura americana numa espécie de driveabout. Perdida com a aparente irracionalidade (e uma habilidosa imprevisibilidade), a polícia não sabe o que fazer, limitando-se ao papel de Coyote desse Papa-Léguas motorizado.

Kowalski tem passado, partes que Sarafian cola no filme como se criasse um painel: ex-militar, ex-policial, ex-piloto, historietas. Sua corrida solitária é guiada por um radialista negro e cego que o vê como “o último herói americano” dirigindo seu “Soulmobile” (Almamóvel), uma celebração que Sarafian arquiteta com melancolia e o cuidado de nunca distanciar o piloto-herói de seu carango, às vezes numa viagem quase mística. Homem e carro coexistem, muito embora Sarafian não esteja interessado em dar personalidade à máquina, como John Carpenter (Christine) e Steven Spielberg (Encurralado) viriam a fazer nesse tipo de relação.

É um baita filme para introduzir os anos 70. Vanishing Point entra de pedal, de speed, de hippismo, de muita poeira e, de quebra, motociclistas peladas. Recebeu bela homenagem de Quentin Tarantino em À Prova de Morte, há quatro anos.

* postado ao som de "Kowalski" - Primal Scream

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