quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Pacific



Passageiros da alegria

Há algo de muito triste neste registro de alegrias que é Pacific, documentário de Marcelo Pedroso que estreia em Goiânia na próxima sexta-feira, 23 de setembro, na sofrida reabertura do Cine Cultura. O filme inicia a programação da Sessão Vitrine na cidade, onde serão exibidos sete longas brasileiros, cada um em cartaz por uma semana. Todo longa é antecedido por um curta-metragem.

Um dos fundadores da Símio Filmes, fértil veia pernambucana do nosso cinema, Pedroso parece ter realizado aqui uma espécie de documentário surpresa, montagem do que se imagina ter sido uma grande coleta de filmagens feitas por passageiros de um cruzeiro nacional, o Pacific, com destino à Fernando de Noronha. Logo no começo, há informação de que a equipe de produção só entrou em contato com as pessoas após o fim do trajeto, com um cinema que se consolida desde o princípio na escolha e ordem das imagens, deixando aquela impressão de que é mesmo com cortes e recortes que se faz, enfim, um filme, e não apenas uma gravação de férias.

Na sua primeira imagem, o Pacific – grande demais, talvez espetacular demais, tudo demais – parece não caber nos sonhos enquadrados pelo cinegrafista amador. O nome inglês do navio é pronunciado com sotaque pernambucano pelo auto-falante da van/ônibus, momento que acaba se assemelhando, em essência, a muitas das atrações oferecidas por esse barcão recreativo. Entre outras coisas, o pacote inclui versões scanneadas de Broadway (O Fantasma da Ópera), Hollywood (Frank Sinatra) e do próprio Brasil (Garota de Ipanema, com direito a uma noção geral e imaginada de praia), cenário de fotocopiação cultural capaz de lembrar o parque de réplicas de O Mundo, do chinês Jia Zhang-ke . Vez ou outra os passageiros também emulam algo do tipo, como o casal que vê no Pacific a sua chance de Titanic, ou no pianista sem notas, “personagem” que Pedroso seleciona com algum traço de melancolia.

De mesma importância, o material das filmadoras revela aquele nosso interesse pela nossa própria imagem. A câmera em si mesmo ou dirigida ao espelho traz os rostos e corpos desses passageiros, pois “se não aparece, não adianta”. É provável que o espectador saia de Pacific sem lembrar o nome das pessoas, mas é difícil esquecer suas imagens, o que fazem delas e o que são feitas por elas, suas próprias filmagens. Aos poucos, essas câmeras soltas pelo cruzeiro acabam por apresentar um mix de hotel, clube e casa de shows rodeado de água por todos os lados, sugerindo aqui um estranho reality show (uma semana “sem contato algum com o mundo lá fora”, fala que surge numa cena com três controles remotos). Após anunciada a máquina de chopp, o zoom da câmera mira a marca da empresa, talvez por instinto.

A passagem por Fernando de Noronha, ilha de fato, é breve. A festa de Réveillon aguarda com as conhecidas promessas cantadas. Promessas festivamente solidificadas em fogos de artifício, que então podem se desmanchar no ar.

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