quarta-feira, 26 de maio de 2010

LOST




Direto ao ponto divisor: gostei do final de Lost. Nem que seja pelo maravilhoso arco dramático do protagonista.

De acordo com o comportamento da série durante seus seis anos, talvez haja certa ingenuidade por trás da cobrança de um 100% nas respostas, ou, ainda mais longe, de um final esclarecedor (seasons 2 e 3, as mais frágeis, chegavam a ser bem chatas nesse aspecto: nunca era a hora de responder nada). A verdade é que, como conclusão, o desfecho é bem claro na explicação, ocorrida durante o último diálogo do show. É nesse ponto que entra a satisfação ou insatisfação em relação ao final que cada um esperava ou, pior, queria, uma situação-balança a qual todo seriado está sujeito, em maior ou menor grau. Nesse sentido, diria que há um tanto bom de coragem aqui.

Como se percebe nas rápidas matérias de internet e no ainda mais ligeiro Twitter, a season finale da série mais coqueluche dos últimos anos terminou em controvérsia, desagradando um punhado de fiéis seguidores que não deram unfollow entre uma temporada. Com a falta de respostas sendo a maior queixa, Lost parece dividir um mesmo palco com Matrix (um outro show que investia num mix entre sci-fi e simbolismos religiosos) no que se refere a conclusões versus expectativas. Como a trilogia, será eternamente comentada e teorizada a vácuo, e, não somente por isso, devidamente consolidada na cultura pop.

Entre as marcas de Lost estão inesperadas alterações na estrutura narrativa (há flashbacks, flashforwards e flashsideways), a mitologia própria e, não menos importante, a transição entre elementos religiosos e de ficção científica, muitas vezes em forma de embate. Conceito de viagem no tempo é abordado modo interessante no programa, com idas e vindas que, somado àquele pezinho no fantástico, parecem ter criado uma série em Present Perfect. É até notável, portanto, que tanto investimento em mistério resulte num último episódio carregado no emocional, podendo ser comparada à finale de A Sete Palmos.

Interpretados por gente boa desde o começo (Matthew Fox, Terry O’Quinn, Michael Emerson) ou que evoluíram a cada temporada (Josh Holloway, melhor exemplo), temos aqui personagens principais que foram bem estabelecidos no decorrer de seis anos. Todos estão concentrados num capítulo com assumido ar de despedida que também deve muito ao compositor Michael Giacchino (sua trilha para a série é dos melhores cartões de visitas que alguém poderia ter). Também é presente uma curiosa sensação ecumênica, para dizer o mínimo, o que, somado ao último diálogo, parece sugerir em Lost uma série sobre o lidar com a morte.

Esse “lidar com a morte” foi apontado por um amigo, e o encerramento pesa muito nesse sentido, de fato. Novamente, ecoa a jóia que é a sequência final de A Sete Palmos. Mas também me fez pensar em Umberto Eco dizendo que uma das principais funções da Literatura é a educação para a morte.

p.s.: meus incômodos não estão na falta de explicação aqui ou ali, mas em não entender como uma série faz uma puta abertura em 2005 e, cinco anos depois, apresenta cenários, rolhas de rocha, cavernas, luzes e pedras aparentemente tiradas de um filme da Xuxa. porralost.tumblr.com!

*post escrito ao som de Radiohead - "Everything In Its Right Place"

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