quinta-feira, 14 de abril de 2011

Burrice (também) tem limite

O blog é, a princípio, sobre Cinema, mas senta aqui, escuta aqui, vamos conversar. Nesta tarde de quinta-feira, o jornalista esportivo RicaPerrone publicou o seguinte post em seu blog:


Como o próprio previu, o resultado foi uma onda de protestos contra o post. Posteriormente, pessoas passaram a defender o post, concordando. Twitter. Discussão vai desde twitts mais lúcidos aos mais agressivos, de ambos os lados. Acredito ser necessário dizer, contudo, que o post de RicaPerrone é muito mais burro, ignorante e desinformado do que homofóbico. Vejamos:

“O Cruzeiro ser punido no Voley porque sua torcida chamou o carinha do outro time de “viado” é a piada do século. Pra mim, é claro. Pra muitos é a “lição de moral” do ano.
Qualé a novidade em uma torcida chamar um adversário de viado? Qual foi o jogo, dentre os últimos 9 milhões aqui no Brasil, onde a torcida local não chamou o destaque rival de “viado”?”

Surpreendentemente, para quem leu o texto todo, Perrone começa até bem. A punição talvez seja um pouco demais, se pensarmos no universo esportivo (o que não descaracteriza como ofensa, principalmente se dependermos de contexto). Friso o talvez inclusive literalmente, por uma questão de dar o benefício da dúvida.

“Onde é que está o processo contra as torcidas que chamaram o Ronaldo de gordo?
Cadê a liga da justiça pra encher o saco quando xingam a mãe do juiz no futebol?
Não tem ONG “Mamães legais” ainda? Cria uma aí, pô! Se dá grana não sei, mas ibope dá.
Vamos separar as coisas e excluir o oportunismo ignorante, que é o pior que tem.”

Aqui, Perrone desanda. Muito. Não que gordos não sejam vítimas de bullying, mas queria saber se uma série de pessoas obesas é morta apenas por ser assim, por causa dessas características. Queria saber se essas pessoas têm direitos negados.

“O sujeito que nasce negro ou branco não pode ser discriminado pela cor que tem. Racismo é CRIME, é absurdo e não faz sentido.
O que não tem NADA a ver com o fato de eu virar pros meus amigos negros e chama-los, carinhosamente, de “Negão”. Pois assim o Pelé, rei do futebol, se chama, por exemplo.
Como nunca dei ataque por ser chamado de “gordinho” ou “alemão”.
São termos que, goste você ou não, perderam o tom ofensivo. É absolutamente popular, comum, inofensivo.
Assim como brincar com seu amigo e chama-lo de “viado”, ou hostilizar um rival com o termo. É normal, não quer dizer que “odiamos você por você gostar de meninos”.
Quer dizer: “Você é viado!”, sendo ou não. É uma forma de mexer com o jogo, só.”

Não existe uma onda de ataques, a ponto de matar, contra “gordinhos” e “alemães”. Essas pessoas não têm direitos negados por serem assim. É, simplesmente, uma comparação absurda, ignorante do ponto de vista sociológico, histórico, cultural e contando.

Ao mesmo tempo, no fantástico mundo de Rica, chamar alguém de “viado” é sempre tranquilo, nunca ofensivo, agressivo ou preconceituoso, aparentemente. E acompanhem comigo no replay:

Ser gay, que no meu conceito é 100% diferente de ser viado, é uma OPÇÃO SEXUAL. Viado é uma “opção pra aparecer”. Assim sendo, é opcional ser gótico, Emo, pagodeiro, roqueiro, palmeirense, flamenguista, etc. Você escolhe o que quer ser e como quer viver. E isso gera grupos que se afastam ou se aproximam de você.
Adoro samba, logo, tenho enorme facilidade em ter amigos sambistas. Não tenho, porém, grandes amigos roqueiros daqueles que andam de preto balançando a cabeça. Sou guitarrofobico?
Porra! São escolhas, e não ofendendo, não menosprezando, é tão direito seu andar de rosa quanto meu andar do outro lado da rua. Qualé?



“Opção sexual”. Fascinante: porque eu não me lembro quando escolhi ser heterossexual. Talvez Rica se lembre quando, ainda jovem, talvez criança, talvez ainda nas mamadas, parou e decidiu que queria mesmo é pegar a mulherada. Eu não lembro. Lembro quando escolhi escutar heavy metal, lembro quando decidi não ser mais metaleiro, lembro quando decidi ser corinthiano, lembro quando decidi parar de acompanhar futebol, lembro quando escolhi voltar a acompanhar apenas alguns jogos da Champions League, lembro quando decidi ser ateu, e lembro, sobretudo, quando decidi não apenas não ser preconceituoso, mas quando optei por combater certos preconceitos. Dessas coisas eu lembro. Essas foram as minhas escolhas. Eu queria poder escolher por quem me sinto atraído (porque, afinal, não é essa a questão?); facilitaria muitas coisas.

E o que fazer quanto à palavra “viado”? Pelo visto, Rica não vê mal algum. Serve até pra separar os gays (contidos, discretos, apenas “gays”) dos gays plus edição especial em 2 discos e muitos extras (os “viados”, afetados, afeminados, espalhafatosos). Então como é isso? Por analogia, tá liberado chamar de “macaco” os negros “mais escuros”, Rica? Como funciona? Eu acredito – assim, é só uma impressão, andei lendo umas coisas – que não tá liberado, porque racismo já é crime. Na Constituição, “viado” ainda tá permitido. O que isso significa?

Mas vamos, por um instante, acompanhar o raciocínio e os conceitos de Rica e encararmos “viado” como “uma opção pra aparecer” (o que não deixa, é verdade, de ser uma distinção adotada por parte da sociedade). Deixo, com vocês, algumas palavras da Mahayana (@mahagod):

“Esse argumento de "seja gay, mas não espalhe por aí! Nada de ser afeminado! Dê o cu no seu quarto, mas nada de dar a mão na rua!" Deixa eu contar uma novidade: tem gay que GOSTA de ser afeminado, assim como tem gay que não gosta.... É o equivalente ao Bolsonaro chegar para um negro e falar "olha, você pode ser preto que vou fingir que você é gente, mas nada de querer ser macumbeiro, de batucar, de usar blackpower ou rasta... Seja negro, mas se comporte como branco. De preferência, passa um pó de arroz nessa cara". Cultura afro tá aí para ser usada, abusada e respeitada. Cultura gay também.”

Pra finalizar, Rica sabe por quantos gays já andou lado a lado em uma calçada e não sabia que eram gays? “Andar do outro lado da rua”? Ok, direito seu. Mas por que não proibi-los de andar nas calçadas, facilitando as coisas? (dica: alguém, na História, já tentou coisa parecida)

(EDIT: ah, será que ele se referia apenas aos "viados"? Ok, direito, talvez até com um pouco de propriedade, assim como eu prefiro evitar aqueles machões-pagadores-de-comedor-em-micaretas. É uma escolha ser esse tipo machão, e é escolha ser o "viado" ao qual Rica se refere. Mas, da mesma forma que tais juízos não podem se sujeitar a generalizações, tampouco podem ignorar que "machões" não correm o risco de serem agredidos até a morte por terem escolhido a persona da "macheza".)

O discurso da tolerância ("não concordo, mas tolero"), tão recorrente, é perigoso e costuma carregar um preconceito disfarçado. Por definição, tolerância presume uma relação de superioridade e inferioridade. "Você pode ser assim desde que eu tolere". É, em outras palavras, dar ou não uma permissão. E se alguém tolera e permite em um certo momento, pode simplesmente, na sua condição de "superior", deixar de tolerar e permitir. Quem deu o poder de permissão a esses tolerantes (sic)?

"Você quer ser gay ou amigão da galera? Quer ter direitos ou “mais direitos” que os outros?
Pelo que brigam, afinal?
Eu não sou gay, nunca destratei um gay, não sou homofobico, mas não quero ter um filho gay. Como não quero ter um filho gótico e nem Emo, o que não me torna um “emofobico” ou “Goticofobico” e nem gera centenas de moralistas me enchendo o saco.
Porque? Quem está tendo “tratamento diferenciado” agora?
Sejam gays. A gente aceita. Só não forcem pra ser “exemplo”.
Se querem igualdade, taí. O que querem, agora, é tratamento VIP.
Já nos obrigaram, com razão, a respeitar. Não tentem nos obrigar a gostar."


“Mais direitos”. Eis uma pessoa que não entende, não faz a menor idéia, do que homossexuais (e todas as minorias – politicamente falando – discriminadas) querem. Querem, pra começar, os direitos que lhes são negados (são, na verdade, 73 dessa lista, não 78). Querem direitos, ora vejam, humanos.

Também não sou gay, Rica. Se você é homofóbico, eu ainda estou aqui julgando. Não pretendo ter filhos, mas, se tiver, o que quero mesmo é que seja alguém sensato, esclarecido. Penso que burrice (ignorância nem tanto, depende de mais coisas), no sentido de tolice mesmo, seja uma questão de escolha, principalmente para quem tem acesso a informação. Como jornalistas, por exemplo. Como comunicadores.

Rica tem certa razão, mas de uma maneira torpe. Gays tem “tratamento diferenciado”. Na Av. Paulista ,eles têm recebido esse tratamento quase toda semana, por exemplo. Eu não apanho por causa da minha sexualidade, tampouco por causa da minha cor branca, muito menos por minha estatura mediana. Os gays, sim. Alguns tem até o privilégio de serem mortos por causa dessa característica.

E como perguntar não faz mal: o que deve ser “exemplo”? Ninguém está obrigando ninguém a gostar de nada. Faz-se necessário, porém, um pedido de bom senso e esclarecimento, principalmente de um nome com espaço na mídia. Eu sei que um post tão descuidado e desinformado não pode ser exemplo, e, no entanto, é tomado como exemplo por muitos. É só observar a hashtag #ricaperrone no Twitter, onde o discurso ignorante, por vezes homofóbico, encontrou (mais uma) força motora.

Preconceito existe. Preconceito latente existe. Um texto absolutamente sem fundamento, agarrado a um mais puro e inoportuno senso comum, pode fazer com que esses preconceitos apareçam, tomem força. No começo do texto, dá pra perceber que Rica quis ir para um lado, quis dizer alguma coisa. Não conseguiu. A comunicação ou não foi feita por perder seu sentido ou seu comunicador foi simplesmente irresponsável e incompetente.

RicaPerrone afirma não ser homofóbico. Muitos são ou colaboram para uma homofobia sem perceber que assim o fazem. Por ignorância, às vezes próxima a uma ingenuidade febril. O caso de Rica é mais grave, pois ignora os efeitos de um texto seu na mídia, e, na corrente, acumula e reforça pessoas que ignoram o que seu texto ignora.

Já nos obrigaram, e com razão, a estudar. Não tente nos obrigar a pensar que isso foi inútil. Burrice e ignorância também têm limites.

Fabrício Cordeiro - @fabridoss

p.s.: as críticas contidas neste post são destinadas ao texto "Hipocrisia tem limite" escrito por RicaPerrone e somente a esse texto. Não conheço o jornalista, não sei se ele costuma ter essa falta de cuidado, muito menos se ele é uma pessoa "burra" e ignorante no geral. O texto, entretanto, é.

33 comentários:

  1. E onde fica a liberdade de opinião de quem não acha que ser gay é legal?
    Onde fica a tolêrancia dos gays aos que têm opinião contrária?
    Os mendigos apanham e morrem nas ruas muito mais que os gays; os gordos deixam de ser empregados como vendedores de loja, por exemplo, por não serem "atraentes"; e ninguém diz nada, inclusive vc ao dizer que gordos não têm direitos negados.
    Os evangélicos sempre foram ridicularizados por não beberem, não praticarem sexo antes do casamento e tantas outras coisas. Quem os defendeu? Nem por isso eles buscaram ser um grupo intocável e blindado.
    "Pelo que brigam, afinal?"
    Brigam pra impor uma ditadura homossexual. Ou vc apoia, ou é preso e taxado como homofóbico pelos que têm aversão à opinião discordante.

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  2. Fuuuuu5, essa liberdade de opinião fica na sua igreja conservadora. Você entendeu tudo errado.

    O que queremos, aqui, são direitos iguais e nada além. Não "aprovação" do comportamento de gays, mas equiparação de direitos.

    Os evangélicos não são agredidos nem mortos no Brasil por serem evangélicos. Os gordos também não.

    (E FELIZMENTE há muita gente por aí ajudando mendigos, trabalhando em abrigos e em distribuição de comida e roupas. Você é um deles?)

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  3. comentários como este do Fuuuuu5, me deixam muito triste, até hoje as pessoas não entenderam que a luta é simplesmente para acabar com isso, com o pensando de "onde fica a liberdade de opinião de quem não acha que ser gay é legal?" não se tem que achar legal, é pronto e acabou, ninguém tem que achar legal ser hetero, é pronto acabou, o que todo mundo pleiteia é igualdade, assim como ninguém questiona minha heterosexualidade, ninguém deveria me questionar se eu fosse homosexual. Rezo para um dia as pessoas entenderem que todos somos iguais!

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  4. Muito bom seu texto, Fabrício. Li originalmente o texto do Rica, ainda concordo com ele, mas você tem bons argumentos também.
    Queria apenas ressaltar uma coisa: a agressão que alguns gays sofrem tem que ser rechaçada de toda e qualquer forma, não só aos gays. O Rica cita, por exemplo, que você pode escolher ser palmeirense, flamenguista, etc.. Já vi diversos casos de pessoas com a camisa de um clube sendo agredidas apenas por estarem com tal camisa. Isso significa que a torcida rival é "palmeirofóbica" ou "flamengofóbica"? Não. Significa que um grupo de vândalos e marginais não sabem viver em sociedade, e ponto. Não fossem os gays, ou a torcida rival, seriam os evangélicos, os gordos, os negros, etc..
    Qualquer tipo de agressão, contra quem quer que seja, deve ser prevenida e punida. E os gays deveriam simplesmente viver suas vidas da maneira que preferirem, como todos os demais. Acho que, ao invés de lutar por respeito, tolerância, ou coisa que o valha, deveriam lutar por melhores condições de policiamento. Pois isso sim é um problema grave.

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  5. Sobre essa questão que você falou e reiterou sobre onda de ataques para matar homossexuais, façamos um exercicio. Gostaria que me indicasse uma estatística oficial de fonte neutra que demonstra que a proporção de homossexuais entre as vitimas de homicio supera a proporção de homossexuais na população em geral.
    É um dado simples e pela objetividade da sua redação tenho certeza que é um estudo que você já o fez.
    No aguardo.

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  6. Alan, concordo com você, mas a questão vai um pouco além por causa dos direitos (e como os distorce, quando diz, por exemplo, "mais direitos"), que é onde o Rica mais desanda (e, por consequência, desanda nas comparações que faz). Crimes são motivados, e motivos são específicos. Partem de preconceito, e a privação de direitos, assim como a distorção de suas reivindicações, colabora pra isso.


    Ed, por mais que esteja relacionada, a questão não é essa. A questão é a motivação que levam a agressões que podem chegam a ser fatais. A questão é o homicídio POR SER homossexual. Que diferença faz a proporção exata e concreta? Não tenho esse dado. E você quer de uma fonte "neutra", o que complica ainda mais, já que até o momento, quem tem um interesse mais real em levantar esses dados são aqueles que se mobilizam pelas causas dos homossexuais. Estão errados? Ou melhor: são menos válidos?

    Acredito que um exercício mais coerente seja observar as ocorrências criminosas contra homossexuais que têm sido noticiadas com uma certa frequência há algum tempo.

    O preconceito latente é um exemplo mais brando disso. A hashtag #ricaperrone estava repleta de discursos que incitam o ódio. O Rica abriu o post dele para comentários: lá você encontra, por exemplo, uma pessoa que diz: "queria estes merdas de gays tivessem nascido na época medieval para ver o que é bom!!"

    Lembre-se: reivindicar certos direitos e pedir a aprovação de uma lei NÃO vai privilegiar ninguém, muito menos substituir ou impedir outras leis e reivindicações.

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  7. Ah, Alan, outra coisa: o Rica menciona o exemplo dos torcedores, mas ele comete o equívoco de, desde o começo, tratar a homossexualidade como uma opção, uma escolha.

    Você está certo quanto a qualquer agressão ter de ser punida. Na verdade, isso é previsto em Lei. No entanto, existe uma escala de crimes. Uma agressão por racismo, por exemplo, é considerada mais grave, e tem de ser mesmo, pois além da agressão em si, existe um motivo discriminatório aí. A Lei contra a homofobia prevê o mesmo, só que para homossexuais. O MOTIVO constitui uma gravidade maior; gays são agredidos POR SEREM gays.

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  8. Ed, consegui dados:

    http://diariodepetropolis.com.br/2011/04/05/a-cada-36-horas-um-homossexual-e-morto-no-brasil/

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  9. Cordeiro, frequencia de noticia não é frequencia de ocorrencia. É de um significado muito limitado e, dependendo da intenção do noticiador, chega a ser maquiavélico.

    A minha pergunta por um dado é um exercicio básico. Você nao sabe a resposta, mas eu posso te dizer. A proporção de homicidos contra homossexuais nao chega a um décimo da proporção de homossexuais na população. E olha que ai tb estao incluidos os crimes SEM motivações homofóbicas. Em outras palavras, no Brasil, é mais seguro ser gay do que não ser.

    Obviamente nao estou querendo negar o fato de que há crimes cometidos com motivações homofóbicas. Eles existem (e, naturalmente, são repulsivos), mas numa fração tão minuscula que qqr tentativa de alardear o fato como risco de segurança máxima é absurdo. É querer manipular para obter vantagens do Estado. É ilicito! E é exatamente a formula ideologica dos movimentos gays para os seus projetos de poder.

    Seja vc gay ou não, cuidado para não servir de massa de manobra. A discussão aqui, no final, é apenas sobre dinheiro e poder.

    Um abc!

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  10. Ed, você está certo quanto à frequência de notícia. Mas repito: a questão não é essa. E para a sua afirmação, que você disse ter a resposta, também preciso te cobrar dados estatísticos.

    E, insisto, a questão nem é essa. Acho que deixei claro nas respostas anteriores.

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  11. Ops, perdão: eu confundi a relação que você fez. Não precisa de dados (mas seria bom, por uma questão de ilustração). Faz sentido. Proporcionalmente, faz sentido. Mas discordo quanto ao "ser seguro", principalmente quando uma afirmação assim se encontra numa discussão que foi afunilada para os casos de homocídio. E homofobia não é apenas sobre isso.

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  12. "Dinheiro e poder", "projetos de poder". Como o que? Dominação ou coisa do tipo? Por acaso seria um "projeto de poder" semelhante ao das feministas e ao dos negros?

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  13. Cordeiro, segue a ilustração. De acordo com o link que você mesmo me passou, em 2010 foram assassinados 260 homossexuais. Vou usar esse link (http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2010/12/numero-de-homicidios-no-brasil-aumentou-de-2008-para-2009.html) , de facil busca no Google, e mostrar algo para vc.

    Homossexuais assassinados: 260
    Homicidios no BR: 25 por 100 mil habitantes. Como temos cerca de 192 milhoes de habitantes isso da, por alto, 48 mil homicidios.
    Ou seja, temos um numero próximo a 0.6%. Se considerarmos que o proprio Censo GLS estima a população homossexual do Brasil em algo como 10%, você vai entender o que quero dizer.

    Sei que os dados não estão todos de mesma data e fonte, mas as ordens de grandeza deixam claro que esse fato se torna irrelevante. Inclusive, fique a vontade pra pesquisar sobre isso em caso de desconfianca. E lembre-se que 260 homossexuais assassinados não significa dizer que foram 260 crimes de cunho homofóbico.

    Como vc ja disse entender, nao vou reexplicar os dados. Folgo saber que vc compreende que emito opinioes que sao estritamente politicas. A mim nao interessa a conduta erotica de ninguem.

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  14. Alias, apenas como observacao, o Diario de Petropolis (?)deveria se envergonhar de tão tendenciosa materia. A mim, confesso que ja nao surpeende a constante distorção dos veiculos de comunicacao.

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  15. Sim sim, entendi. Eu tinha confundido a relação antes. Pelos próprios dados do movimento GLBT da Bahia já dava pra perceber o sentido da proporção a qual você se referiu. Mas foi bom ter essa relação ilustrada.

    Porém, vem as outras questões que coloquei anteriormente. Sei que seu interesse é mais político (na verdade, eu diria que meramente estatístico, já que politicamente vai muito, muito além dessas estatísticas e dos homocídios) e por isso o foco nos dados, mas não, não posso concordar que "é seguro" ser gay no Brasil (explicado no meu comentario anterior).

    Como já disse, sobre os dados de homicídio, a questão não é essa, embora tenha relação.

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  16. Ed,
    Já que você gosta tanto de embasamento teórico de fontes seguras e como não sei se as que tenho você aprovaria...Sugiro um teste, ande pela avenida paulista de madrugada travestido e vamos ver se tem mais sorte de chegar vivo ao fim dela do que você usasse os seus trajes habituais. Até pouco tempo atrás existiam leis que não deixavam negros sentarem em um mesmo banco que brancos, hoje em dia não existe mais todo mundo aceita que exista igualdade entre as raças um torcedor ofereceu banana ao jogador Roberto Carlos porque achou que ele precisava de mais cálcio. A intolerância com o diferente é a mesma.
    PS: O IBGE só começou a quantificar os casais gays que viviam em união estável no último censo então como você pode afirmar com tanta certeza que "A proporção de homicidos contra homossexuais nao chega a um décimo da proporção de homossexuais na população".
    Abçs

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  17. A tao alardeada (e de profunda insercao) vitimizacao feita pelos movimentos gays e a ignorancia com que brucutus rejeitam as manifestacoes homossexuais te fazem repelir a simplicidade dos fatos. É natural...

    A questao dos homicidios, acredite, eu sei no que reside sua revolta. ainda que fosse um unico homicidio no ano, é repulsivo um crime de cunho homofobico. Tb concordo com isso. O fato é q sendo essa uma motivação com representação tao infinintesimal, ela nao justifica aquilo que, baseado nela, é demandado.

    No mais, acredite, é estritamente politico. Os dados apenas mostram a cafajestagem de um grupo que almeja a proteção discricionaria de toda uma aparelhagem juridica e policial.

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  18. ao "eu": me perdoe nao responder ao seu comentario de maneira aprofundada mas eu teria que reescrever metade de td que ja foi dito e, ao meu gosto, isso seria desnecessario e cansativo. tvz uma releitura melhore a sua compreensao.

    um abc!

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  19. Ed, acho que há um pequeno engano no tratamento dado por você às informações.

    Ao que entendo, a estatística de "260 homossexuais mortos" refere-se apenas a assassinatos em que *o motivo do crime* foi a pessoa ser homossexual.

    É de se esperar que entre os 48 mil homicídios, 10% deles sejam de pessoas homossexuais.

    Então, de fato, 260/48000 é uma parcela ínfima, mas é um risco *extra* aos homossexuais, não um risco reduzido.

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  20. Ed, a questão não é essa, pela brucutulização nem nada. Amplie a homofobia para além da taxa de homocídios e poderemos discutir melhor a questão que importa. Reduzir homofobia aos homicídios é antes uma simplificação grosseira do que "simplicidade dos fatos".

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  21. 2pik: sua linha de raciocinio é correta mas a premissa esta errada. sao, de fato, 260 homossexuais mortos por razoes quaisquer. Sob sua otica, ainda que fosse um risco extra, seria irrisorio como vc bem mesmo disse.

    Seria interessante colher dados sobre os homossexuais que cometem homicidios tb. Dependendo da relacao a abordagem pode ficar ainda pior. Acredito (e agora isso é meramente pessoal) que, de fato, ficaria pior. Mas pior num nivel tb tao pequeno que tb nao se justificaria nenhuma mobilizacao especifica contra os homossexuais.

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  22. cordeiro, foi bom vc dizer isso. principalmente da maneira como vc disse. a palavra homofobia foi introduzida no universo homossexual pelo psicologo George Weinberg ( http://en.wikipedia.org/wiki/George_Weinberg_(psychologist) ) e sofreu uma manipulacao semantica. ela deve ser usada para descrever o tipo criminoso citado pelo dr. Weinberg, mas hj nao passa de instrumento punitivo.

    pq isso? pq propositadamente colocaram no msm saco uma simples rejeicao, por mais respeitosa que seja, a uma conduta homossexual e uma motivacao criminosa contra homossexuais.

    num cacoete de passividade, td passa hj como se fosse uma coisa so e uma simples critica a um homossexual sofre multiplas acusacoes de homofobia. Ou seja, um embuste dos gnds.

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  23. prezados,
    foi um prazer debater com vcs. espero que nao tenham me interpretado mal em nenhum momento e agradeco a maneira respeitosa com que se dirigiram a mim, independentemente do nosso alinhamento de ideias.
    agora eu preciso ir dormir. boa noite para os que ainda estao lendo os comentarios do blog e especialmente ao cordeiro.

    Um abc!

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  24. Ed, sério que você quer discutir a semântica como era e como é hoje? O que importa para o que está sendo discutido (pelo menos para o que eu venho discutindo, desde o meu post)? Você sabe exatamente a semântica a que me refiro quando falo de homofobia. Chame do que quiser, simplesmente não importa. Para as coisas que são feitas contra homossexuais, a semântica original simplesmente não importa.

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  25. E a alteração semântica nem é tão grande assim como você tenta. O "prejudice" está bem claro ali.

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  26. Nem todas as escolhas, meu amigo, são conscientes e sistematicamente percebidas. Psicologia, conhece? O fato de você não identificar o momento em que suas opções ocorreram não diz que elas não existiram. Diversas civilizações ao longo do tempo atribuíram à homossexualidade um caráter melhor subjugando as mulheres. Não seria uma opção? Por fim, para adjetivar e ofender o outro se espera, no mínimo, que não reproduza as mesmas falhas.

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  27. Ed,

    acho pouco provável que seja eu que esteja tomando premissas de forma errada.

    Não faz sentido que sejam apenas 260 homossexuais "por qualquer motivo", e digo os porquês:

    1. Se a pessoa foi vítima de latrocínio, como saber a posteriori se ela era homo ou heterossexual? (Não há documentação pessoal que diga orientação sexual, nem há documentação post-mortem que deixe esse tipo de informação clara/visível/acessível);

    2. Supondo ainda 10% da população homossexual, julgo que estes 10% estão proporcionalmente divididos entre todas as regiões e classes sociais, sendo assim, seria de se estranhar que fossem 10% "blindados" contra quaisquer motivos corriqueiros de homicídio.

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  28. Infelizmente, o site do GGB é bem ruinzinho, não consegui ver se publicaram, de fato, um estudo (dizendo de onde vieram estas informações e a quais crimes exatamente elas correspondem), só consegui achar o mesmo número replicado naquela reportagem linkada pelo Fabrício. Mas, ainda lá, o texto dá a entender que são crimes de ódio, não "todo e qualquer crime".

    Também não encontrei dados do IBGE (e nem de outro canto) para corroborar a minha ou a sua teses, mas continuo achando a minha mais plausível.

    E, mesmo levando em conta que a flutuação é irrisória, ainda assim são crimes de ódio. São crimes motivados única e exclusivamente porque pessoas se sentem "agredidas" ao ver dois homens/mulheres de mãos dadas/se beijando em público (às vezes nem isso).

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  29. 10% da população tem este risco extra (e, como o Fabrício também citou, estamos falando apenas de HOMICÍDIOS, e não de agressões e/ou "chegas-para-lá") apenas por sua orientação sexual.

    Entende onde queremos chegar? Não é questão de "vitimizar". Até agora, não precisei vitimizar nada, estou te mostrando com argumentos claros e bastante lógicos que ser homossexual traz:

    1. dificuldades extras para simples (e corriqueiras) demonstrações de afeto;
    2. maior risco de ser vítima de homicídio.

    Discordo da sua idéia de que o grupo queira "vantagens extras". O que sempre se busca é igualdade de direitos.

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  30. Infelizmente, há exageros de ambos os lados, e muitas vezes o discurso é mudado para que pareça que homossexuais querem se tornar intocáveis. Não é este o caso.

    Para finalizar, respondendo ao seu último questionamento, acho que existam (proporcionalmente) tantos assassinos homossexuais quanto heterossexuais. Acredito que as estatísticas se apliquem igualmente a ambos os grupos (porque, como disse ali em cima, acredito que os homossexuais estejam proporcionalmente divididos na sociedade).

    (Peço desculpas por este pequeno "flood" na resposta)

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  31. Diego, o Rica foi muito claro a como se referia a opção/escolha quando fez comparações com escolhas de time, escolhas musicais etc. Não se faça de desentendido.

    Homossexualidade e heterossexualidade (e bissexualidade), ligadas ao corpo em si, estão muito mais para cor de pele, por exemplo, do que para qualquer outra coisa. Você pode escolher seus PARCEIROS, com que faz sexo, mas não sua sexualidade.

    Você pode passar a vida toda transando com mulher e, no entanto, ser gay. Não existem vários exemplos assim, por causa do preconceito? A pessoa escolher ter uma vida hetero, o que não quer dizer que ele seja hetero.

    Heteros são atraídos por pessoas do sexo oposto. Homossexuais, por pessoas do mesmo sexo. Atração. NÃO ato sexual. Atração. Pergunto: mesmo entre heterossexuais masculinos, por exemplo, há escolha por quais mulheres eles se sentem atraídos? Eu não escolho. Eu queria muito não ter me sentido atraído por algumas moças por quem senti atração, ou ter sentido por outras que nunca senti.

    Lembrando, também, que atração é diferente de beleza.

    ..

    2pik: o site é ruinzinho mesmo. O Moita Lopes, pesquisador, linguista etc, lembra em vários textos dele que os movimentos LGBT no Brasil são muito desorganizados, o que colabora para não serem levados mais a sério. E é verdade, infelizmente.

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